É bem provável que você tenha chegado a esta análise curioso, afinal, o título do jogo pode ter chamado a sua atenção. Baba Is You é um nome que realmente desperta nossa curiosidade. E mais curioso do que isso é a forma como este game funciona, com uma ideia bem diferente e peculiar, um conceito simples e ao mesmo tempo com suas complexidades.
Baba Is You foi um projeto idealizado e concebido durante uma Game Jam, evento onde desenvolvedores são desafiados a concluir um jogo do zero em um curto prazo de tempo e geralmente com algum tema específico. Este evento em questão era a edição de 2017 da Nordic Game Jam, quando o finlandês Arvi Teikari usou o tema “Not There” (Não Está Lá) e seu desejo de criar um jogo do gênero puzzle para dar origem à esta desafiante e lógica criação – que aliás foi o grande vencedor dessa edição.
Teikari decidiu expandir sua obra e transformá-la em um game comercial, cujo o resultado conferimos aqui. Porém, diferindo em alguns aspectos de sua versão inicial, agora ele vem com fases mais complexas, arte mais refinada (feita a mão), trilha sonora e efeitos criados pelo próprio autor.
Jogo de palavras
Baba Is You aborda uma linguagem, especificamente a língua inglesa, com aspectos de lógica de programação. Apesar disso parecer um empecilho para aqueles que não dominam a arte do desenvolvimento, essa pode ser uma porta de entrada para o aprendizado. Afinal, ele lida de maneira bem intuitiva com a linguagem usando um tipo de cartilha educativa, então até mesmo para aqueles que não tem conhecimento da lógica, pode ser uma boa pedida.
Como o nome já antecipa, você é Baba, uma criatura que parece um bode, mas também pode ser uma vaca ou até mesmo um gato para alguns. Isso ao menos no início, pois logo você pode ser um arbusto, uma parede ou até mesmo uma pedra, dependendo da sua criatividade. Tudo isso derivado das combinações de palavras e frases que você pode formar.
Este é literalmente um jogo de palavras, ou melhor, sobre palavras. O conceito de Baba Is You lembra em certo nível o de Scribblenauts, onde podemos criar elementos à partir de palavras. E tal qual o jogo de Maxwell, resolver os puzzles exigirá que você tenha pleno conhecimento de todas as possibilidades em campo. Às vezes a solução pode ser algo inusitado.
Existem dois tipos de palavras dentro das fases: as que definem elementos palpáveis, como paredes, gramado, água e até animais; e aqueles que são conceitos, como empurrar, parar, ganhar etc. Seu objetivo é juntar duas palavras, que são blocos dentro das fases, com verbos de ligação, assim tornando a frase formada algo tangível dentro daquele mundo. Por exemplo, se trocar “Baba” na frase “Baba Is You” por “Wall” (parede), você toma controle da parede, simples assim.
Ao menos na teoria parece simples, mas juntar os termos pode se tornar custoso no momento que mover os blocos de texto e montar combinações. E é nesse ponto que entra de fato o elemento puzzle no jogo: você sabe aonde precisa chegar, mas como chegar lá é o desafio, formando frases para liberar ou criar o caminho.
A dificuldade se torna aparente em poucas fases, quando as possibilidades se tornam mais variadas e os obstáculos mais complexos. Realmente é um jogo que irá te desafiar, não só logicamente como criativamente, afinal as soluções exigem por vezes certa imaginação. E pode acreditar, descobrir a solução e concluir as fases traz uma grande sensação de satisfação.
São mais de 200 desafios lógicos que com certeza irão te render muitas horas de gameplay. Boa parte delas será consumida pensando na melhor solução para levar Baba à vitória ou trazê-la até você. Mas não se preocupe, pois caso cometa um erro existe a possibilidade de retroceder suas ações, assim não é necessário iniciar toda a fase novamente.
A arte deste título é extremamente simples e minimalista, sem muitos detalhes no geral, tirando os mapas que contam com mais elementos. Os desenhos a mão lembra muito desenhos a giz em um quadro negro. Um toque interessante e bem característico. Quanto à trilha sonora, apesar das músicas parecerem um pouco repetitivas são agradáveis de se ouvir, algumas mais do que outras, mas no geral combinando bem com o conceito da obra.
Baba também erra
Algo que pode desagradar algumas pessoas são as bordas que ficam em volta das fases, ocupando boa parte da tela. Talvez jogando no modo TV do Switch isso não seja tão inconveniente, mas no modo portátil isso diminui muito o campo de visão. Não que atrapalhe a jogabilidade em si, mas fica a dúvida do porquê desta escolha de design, já que no mapa e nos menus isso não ocorre tão proeminentemente.
Outro fator que pode incomodar é a navegação, já que não existe um comando para voltar entre os menus; tanto o botão A quanto B confirmam ações. Na navegação pelo mapa isso fica ainda mais irritante pois em mapas subterrâneos, por exemplo, você precisa transitar até o ícone destinado à essa ação para retornar ao mapa anterior, o que poderia ser simplificado apenas com o apertar de um botão.
O game também não utiliza nenhum dos recursos únicos do Switch, nem mesmo o HD rumble. A simplicidade foi levada ao pé da letra, pecando nos comandos e funcionalidades que poderiam ser bem aplicados ao título.
É inegável a criatividade presente em Baba Is You, que com simplicidade visual e um conceito trivial criou puzzles lógicos, complexos e desafiadores. Certamente este não é um jogo para todos, mas é recomendado e pode agradar até aqueles que não dominam linguagem de programação. Além de, quem sabe, ser uma fonte de aprendizado.
Outro detalhe que não posso deixar de citar é o fato de que 10% de todo o valor bruto arrecadado pelas vendas do jogo será revertido para um fundo de caridade. Realmente uma atitude que merece destaque.