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Far Cry 6 é, sem tirar nem por, tudo que se espera dele: é maior, melhor e praticamente obrigatório para quem vem curtindo a série desde Far Cry 3. Aqui você ainda vai participar de operações no maior estilo “exército de uma pessoa só”, vai conversar com gente que não gosta de você de início (mas vai passar a gostar) e se esbaldar em armas um tanto prazerosas de utilizar. Tudo em prol de um objetivo que parece bem claro no começo, mas que vai ficando cada vez mais reduzido a simplesmente eliminar quem não é bonzinho e erguer a bandeira do movimento Libertad por toda a ilha de Yara.

Bem vindo à Yara

Yara é claramente baseada em Cuba, com alguma coisa de El Salvador, Haiti e das conhecidas e belas ilhas do Caribe, e com um cenário econômico e político típico da Venezuela. Um lugar extremamente perigoso e comandado pelo líder fascista Ánton Castillo, interpretado por Giancarlo Esposito – se você achava que o cara tinha papéis de malvado em séries como Breaking Bad e The Mandalorian, saiba que ele continua bem mau. O jogador assume o controle de Dani Rojas (que pode ser homem ou mulher), que já fez parte do exército de Yara e agora pulou para o outro lado justamente para se aliar aos guerrilheiros da Libertad, que buscam emancipar a ilha das garras do El Presidente e sua turma de soldados. No meio de tudo isso temos uma briga com fazendeiros de Viviro, um suposto composto derivado do tabaco e que teria propriedades de cura para diversos tipos de câncer.

A trama começa bem clara, mas conforme você vai jogando, parece que o roteiro e, principalmente, as motivações dos personagens vão se enrolando um pouco. Dani é capaz de convencer e ser convencida com facilidade, e também confia e desconfia de personagens sem muito padrão definido. Tudo bem, tem licença poética para tudo, mas talvez a Ubisoft tenha tido a intenção de colocar muitas referências e muitas sub-histórias sem conseguir amarrar isso tudo muito bem. É um ponto negativo? Eu diria que não muito: a motivação principal, de controlar a ilha e acabar com o Ánton, continua sempre presente.

Far Cry 6
Mesmo de barco, as distâncias a serem percorridas são enormes

A estrutura das missões (ou operações, como o game gosta de chamar) é muito similar à que vemos em Far Cry desde a terceira aventura. Roubar coisas, sabotar coisas, destruir coisas… É o que a gente se acostumou muito bem a fazer. São só dois níveis de dificuldade (um modo “normal” e outro “história”) e já fica o aviso de que o modo normal não é tão difícil assim. A munição é relativamente escassa, então vale a pena não só tentar bolar mais ou menos uma rota, como também se familiarizar com as armas e, principalmente, escolhê-las bem antes de cada operação.

Mais Far Cry que os anteriores

Com o smartphone, é possível ver e marcar os inimigos à distância, o que ajuda muito mesmo que não seja sua intenção acabar com todos eles. Acredite: na maioria das vezes, o melhor é cumprir a missão e sair correndo, exceto quando a operação exige que você acabe com todo mundo. A constante sensação de perigo e, de certa forma, solidão, são ingredientes que tornam qualquer Far Cry especial, mas a Ubisoft parece ter elevado isso à segunda potência no sexto game. Tarefas mundanas, como ir de um ponto a outro no mapa de carro, podem se tornar perigosas a qualquer momento, pois qualquer inimigo que te olhar feio já vai querer ir atrás e acabar com você.

Mesmo quando morrer no meio da missão, o game é tão bom de jogar que sempre dá vontade de tentar de novo. Os checkpoints ajudam e, quando você morre, recomeça próximo do início da operação e com a munição renovada. Obviamente, foram anos de estudo e centenas de milhares de gigabytes de dados de comportamento de jogadores que a Ubisoft usou para chegar nesse esquema “atraente” (para não dizer “viciante” mesmo). E eles estão de parabéns: não dá vontade de largar Far Cry 6, exceto quando você acha que jogou a mesma missão pela enésima vez.

Far Cry 6
Há mudança de ciclos de dia para noite durante as operações

Mas sim, Far Cry 6 é um pouquinho repetitivo às vezes. Existe um limite de variedade nas missões, e por mais que a Ubisoft tenha feito um bom trabalho em intercalar algumas mais longas com umas mais curtas, com uns diálogos legais no meio, tem um ponto no jogo em que você vai achar que já fez aquilo.

Empale e toste

Recolhendo urânio empobrecido, o jogador pode adquirir novos tipos de armas, que vão desde as tradicionais metralhadoras, rifles de precisão e escopetas até as mais complexas chamadas “armas de gambiarra”, como o Tostador, que é um lança-chamas que consegue atingir inimigos a uma distância até considerável, e a La Clavadora, com um projétil comprido que literalmente empala os soldados. Além disso, o jogador dispõe de uma habilidade especial, o Supremo, e que também tem algumas opções, como uma série de foguetes lançados ao ar e que conseguem derrubar helicópteros, e um gás que faz os inimigos se enfrentarem.

Depois de uma certa missão no modo campanha o game libera o modo cooperativo, que me surpreendeu muito positivamente nos detalhes. Quando rola uma cutscene, ela só pode ser pulada se os dois jogadores aceitarem. Há a possibilidade do seu companheiro entrar e sair do jogo a qualquer momento, então se você estiver jogando e seu amigo precisar sair, o progresso não será perdido porque você continua sozinho na missão. Se um jogador está mais a frente na campanha e ele hospeda a partida, o outro pode até tomar spoilers porém não terá sua campanha sabotada (ele volta de onde parou depois). Fica aqui o adendo de que o cooperativo não é entre plataformas, então jogadores de Xbox e PlayStation ficam restritos ao coop em suas respectivas linhas de consoles, mesmo entre gerações diferentes.

Far Cry 6
Eu já disse que o mapa todo é gigantesco?

Assim como seu antecessor, Far Cry 6 ainda roda na Dunia Engine, que, por sua vez, tem suas origens lá na antiga CryEngine. Isso significa que, no geral, o jogo é tecnicamente bem parecido com Far Cry 5. Só que desta vez, claro, o game aproveita o potencial dos consoles da nova geração para trazer um pouco mais de esmero. No PS5, que foi a versão testada para esta análise, o game roda em resolução dinâmica, chegando muito perto de 4K em alguns momentos (algo como 1792p).

No Xbox Series X, nossos colegas do Digital Foundry apuraram que o game efetivamente atinge os 4K, mas visualmente essa diferença deve ser imperceptível para a maioria dos jogadores. O importante, nas duas versões, é que o game roda a suaves 60 quadros por segundo, e talvez esse seja um dos grandes méritos desse e de outros jogos recentes da Ubisoft: é um game muito suave, e essa fluidez ajuda demais na ambientação.

Yara é sua casa

Não se trata de um “immersive sim”, mas tudo na engine ajuda o jogador a se sentir dentro do jogo. Efeitos de luz, sombra, fogo e explosões realistas, além do fato de que a distância de renderização é bem alta, te lembrando da grandeza do mundo que a Ubisoft criou para Far Cry 6. É realmente um jogo muito belo de se observar. Eu mesmo me peguei parado várias vezes, só olhando os cenários. Bugs ou pequenos defeitos existe, mas são escassos: o que mais saltou aos olhos foram dois inimigos abatidos cujo as texturas se “quebraram” em meio a parte do cenário (que era uma sala fechada). Dá pra relevar com facilidade.

Far Cry 6
Esses outdoors do Ánton Castillo estão por toda parte. Acabe com eles! Viva a Libertad!

Para os donos de PS5, uma única ressalva é que Far Cry 6 é mais um jogo que não utiliza muito bem os recursos do controle Dual Sense. Ele não te dá nenhuma vibração diferente dependendo do terreno onde você está. É um sinal de que Astro’s Playroom nos acostumou muito mal em relação a isso. Por outro lado, os gatilhos oferecem uma dureza excessiva para mirar com L2 e atirar com R2 e também para acelerar e frear os veículos. Eles literalmente subutilizaram os recursos legais e deixaram só a parte chata, que é ter gatilhos duros em um game em que você justamente precisa utilizar muito os gatilhos. O que eu fiz foi desligar o feedback dos gatilhos mesmo.

E por falar em controles, não tem como deixar de citar os recursos de acessibilidade. A Ubisoft realmente levou a acessibilidade a sério em Far Cry 6 e incluiu dezenas de opções. Narração em menus por exemplo, é sempre vinda para quem necessita desse recurso, mas o que dizer da possibilidade de selecionar a velocidade da narração? Far Cry 6 traz isso e muito mais, incluindo silhuetas em inimigos e coletáveis para facilitar a visualização; legendas não apenas para vozes, mas também para explosões e sons em geral; um travamento de mira automático feito especialmente para quem possui dificuldades motoras; e modos de HUD com cores para os vários tipos de daltonismo. Alguns games de outros estúdios vêm apostando bastante nesse tipo de recurso (The Last of Us Part II e Forza Horizon 4 são bons exemplos), e é muito bom ver que a Ubisoft também vem investindo nisso e melhorando os recursos que ela já oferecia há um tempinho.

Far Cry 6 conseguiu juntar só as partes boas dos outros games da série: muita coisa para fazer, com dezenas e mais dezenas de horas de conteúdo entre as operações da campanha e as secundárias, um modo cooperativo muito divertido, e missões, personagens e armas realmente únicos. Ainda conseguiu ser o melhor Far Cry tecnicamente falando, pelo menos nas plataformas atuais.