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Sou muito suspeito pra falar de Diablo. Acompanho a franquia desde o primeiro game e Diablo II tem seu lugar garantido no meu Top 10. Joguei tanto, mas tanto, que nem na faculdade eu sossegava: juntava os amigos pra jogar, entre um intervalo e outro, no laboratório de informática do campus. A gente se divertia e se odiava, já que a batalha pelo looting era maior do que a batalha contra os inimigos. Ou seja, clicar o mais rápido possível pra pegar os itens “dropados” no chão e garantir o personagem mais descolado e poderoso do grupo. No fim, todo mundo evoluia junto.

Não é a toa que Diablo II tem fama de ser o melhor da franquia: a história é muito boa, assim como a trilha sonora e sua ambientação, sombria e bastante opressora. Você não tem visibilidade completa do cenário e a cada nova dungeon explorada o jogador fica na dúvida se o seu herói sobreviverá. É um jogo difícil, que exige grinding e dedicação para dominar as classes. Aliás, era exatamente isso que os fãs queriam em Diablo III e não receberam, essa sensação de desafio constante. Claro, é um bom game também, mas longe de empolgar no mesmo nível de Diablo II.

21 anos se passaram e, pra ganhar fôlego no desenvolvimento de Diablo IV (o qual tive a oportunidade de testar na BlizzCon 2019 e está bastante promissor), a Blizzard nos traz uma versão ressuscitada de Diablo II. Um remaster aos cuidados da Vicarious Visions, o mesmo estúdio que nos deu o prazer de matar a saudades de Tony Hawk Pro Skater. O resultado é, praticamente, um jogo novo.

Diablo II (2000) à esquerda e Resurrected à direita

Remaster exemplar

Originalmente, Diablo II é um RPG de ação com visão isométrica e gráficos 2D, com alguns efeitos visuais que simulam 3D. O capricho nos sprites dá essa impressão tridimensional, tanto os cenários quanto os personagens, um exemplo do talento da equipe de desenvolvimento da época. Para modernizar este clássico, a Vicarious Visions decidiu reproduzir a mesma obra – incluindo a expansão Lord of Destruction, que introduz as classes Assassino e Druida e adiciona o Ato V, dentre outras novidades – com um visual totalmente reformulado em 3D. E que visual! Se fosse só isso já estaria bom demais, mas as novidades vão muito além.

Seguindo o sucesso de Diablo III nos consoles, Diablo II: Resurrected foi lançado para todas as plataformas da geração passada e atual. Rola crossplay entre plataformas da mesma família (PS4 e PS5, por exemplo), mas a progressão fica salva em sua conta na Battle.net, sendo possível carregá-la em qualquer outro console. E, como esperado, a interface de Diablo II foi adaptada para receber suporte ao controle. No PC, claro que a maioria dos jogadores irá optar pela combinação tradicional de teclado + mouse, mas a experiência que tive com controle (de Xbox One) + mouse foi ainda melhor.

Diablo II: Resurrected
Santuário Arcano, o lugar ideal para grinding

O mapeamento do controle ficou perfeito, com mais de 20 atalhos configuráveis. Só não substitui as facilidades do mouse, como pegar coisas específicas durante o looting e interagir com os itens do inventário (identificar, equipar, comparar, descartar, etc.). No controle, demora para selecionar algo com o analógico direito, fora que alguns botões podem ser segurados para realizar uma segunda função, perdendo pra agilidade do mouse. Ainda assim, a exploração e o combate são bem mais prazerosos no controle.

Melhorias a perder de vista

Detalhando outras mudanças importantes, as cinematics foram todas refeitas em 4K (e tem opção para assistir as originais), o game recebeu tradução e dublagem em Português do Brasil e a trilha sonora passou por uma remixagem incrível, incluindo suporte ao Dolby Surround 7.1. O baú pessoal ganhou mais espaço (de 6×8 para 10×10) e abas adicionais para compartilhar itens entre seus personagens, eliminando a “mula” do game original.

Algumas coisas chatas de fazer, como ficar clicando pra pegar moedas de ouro no chão, foram prontamente modificadas. Basta passar com seu personagem por cima das moedas para coletá-las. Já a estamina, que possui limite de uso e obriga o jogador a caminhar lentamente para encher a barra de volta, continua presente. Podiam ter retirado isso, mas acredito que mantiveram em prol do balanceamento. Pelo menos tem poção e outros macetes pra evitar a fadiga.

Como anunciado antes do lançamento, o jogo permite importar o save do game clássico para continuar jogando em Resurrected exatamente de onde parou, no modo singleplayer local. Já o modo cooperativo foi ampliado de 4 para 8 jogadores simultâneos, possibilitando uma experiência completamente nova.

Diablo II: Resurrected
Além de mais espaço, o baú ganhou abas para itens compartilhados

A gloriosa fase secreta das vacas, a “Moo Moo Farm”, também está de volta. Além do novo visual, a fase agora pode ser repetida quantas vezes os jogadores quiserem. Aproveitando que voltei a falar do visual de Diablo II: Resurrected, preciso elogiar a opção de alternar entre o remaster e a versão original (Legacy). A troca ocorre em tempo real, como se houvessem dois games diferentes rodando em sincronia. Tal recurso irá impressionar tanto os fãs quanto aqueles que nunca jogaram Diablo na vida.

É importante ressaltar que, mesmo com todas essas melhorias, o game original foi completamente respeitado. Não mexeram na dificuldade, os diálogos dos NPCs seguem os mesmos, a animação de movimentação dos heróis e inimigos continua simples, e até a geração procedural das dungeons permanece limitada como era antes. A única coisa que mudou pra valer foram os gráficos pra 3D, deixando tudo mais ricos em detalhes. Adicionaram até a opção de aproximar a câmera, do Diablo III, pra dar aquela conferida no capricho.

A morte cobra seu preço

Se este for o seu primeiro contato com a franquia, saiba que Diablo II não é moleza. Jogar sozinho exige paciência e muita estratégia, experiência que fica mais leve e agradável em co-op. Você pode até contratar um mercenário pra te ajudar, mas nada melhor que dividir as batalhas, lootings e teleportes com outros jogadores. Se a party com 8 parece muita coisa pra acompanhar na tela, imagina se cada um levar seu próprio mercenário junto. Com um Necromante na equipe, com suas caveiras e golems, aí sim a coisa fica caótica de vez.

Diablo II: Resurrected
Necromante, minha classe favorita em Diablo II, garante uma boa bagunça

O lobby online segue o mesmo de sempre, com algumas mudanças na interface. No geral, tá fácil criar partida ou entrar em uma já aberta. Tem só que ficar esperto com o nível dos jogadores, o ato em que eles estão, essas coisas. O único problema que enfrentei durante as minhas sessões foi a instabilidade dos servidores, com lags indesejados que me atrapalharam um bocado.

Nesta era de remasters, Diablo II: Resurrected entra facilmente pra lista dos melhores já feitos. A Vicarious Visions soube lidar com o material original sem modificar sua essência. Pelo contrário, todas as melhorias vieram para valorizar ainda mais esta obra prima da Blizzard, trazê-la para todas as plataformas e para um novo público. Os novatos irão pirar com as sete classes de heróis e suas respectivas habilidades para dominar, além de curtir uma história que marcou uma geração de jogadores.