No vôlei, spiking é o ato de marcar um ponto batendo a bola sobre a rede na quadra adversária de forma eficaz e agressiva. É um dos movimentos mais clássicos e plásticos do jogo, uma das grandes façanhas das partidas. Façanha, no mau sentido da palavra, é o que ocorre em Spike Volleyball.
Antes de iniciarmos, proponho um exercício. Abra o Youtube, coloque ‘Narração Luciano do Valle Vôlei’ ou ‘Narração Galvão Bueno Vôlei’. Se possível, dê preferência para os grandes momentos olímpicos que as seleções brasileiras femininas e masculinas nos proporcionaram, como em Atenas 2004 ou Sydney 2000. Após assistir, feche as janelas, volte para cá e tente manter tais imagens e momentos em sua cabeça, pois o que você encontrará descrito neste review é uma afronta para qualquer fã deste esporte.
Spike Volleyball, lançado no início de fevereiro para PC, Playstation 4 e Xbox One, tinha tudo para marcar território já que não existem títulos deste esporte para esta geração de consoles. Se o jogo fosse bom, arrisco dizer que outros jogos do gênero viriam à tona a fim de disputar o enorme espaço em branco. Contudo, após jogá-lo, minha impressão é que não tão cedo teremos outro título focado em vôlei disponível no mercado.
Rally de problemas
As primeiras impressões ao jogar Spike Volleyball são de que não se trata de um jogo desta geração. De cara, encontramos diversos bugs que nos acompanham com afinco pelas horas perdidas de jogatina. Logo depois que os nomes da desenvolvedora e publisher são apresentados, caímos em uma introdução de partida, onde rola a apresentação do estádio, da torcida, dos times e dos juízes. Os problemas logo começam, já que em todos os momentos há quedas de frames e lags, sem dó.
É iniciado então o tutorial. Neste momento, as mecânicas básicas do game são apresentadas: como sacar, bloquear e comandar seus companheiros de equipe. Não parece tão complicado assim, entretanto na ação os comandos não são fáceis e respondem de forma estranha. O saque mescla força com altura de uma forma pouco intuitiva e confusa. Os bloqueios então, completamente bugados. Física de bola? Parece ter vida própria. Se a primeira impressão não é boa, bora dar uma segunda chance, né? Quantas foram as vezes que já nos enganamos em tirar uma conclusão sem ao menos conhecer melhor o produto?
Pois bem, não é isto que ocorre aqui. Todos os jogadores parecem ser burros, além de jogarem outro esporte que não seja o vôlei. A inteligência artificial é horrenda. Outro ponto que merece destaque negativo: em quase todas as jogadas, o jogador bate na bola sem ao menos ela relar no braço ou no corpo, transmitindo a sensação de que ‘algo ruim está vindo por aí’ – dá-lhe mecânicas fracas. Pasmem: a engine é a Unreal 4. O jogo segue e o martírio não termina. A torcida não reage de forma convincente, sendo os barulhos delas chatos e seus gráficos ultrapassados. Quanto às animações in-game, são sempre as mesmas, das equipes aos torcedores sem dinamismo.
Em busca do ace perdido
Com o tutorial terminado, daremos início a uma nova chance. Somos levados ao menu e modos de jogo, onde quem sabe algo muda. Lembrando demais a disponibilidade que os menus de Fifa vem apresentando ao mercado, os modos são separados em desafios da semana (escolha uma seleção e cumpra o que pedem), modo carreira, amistosos (local e PC) e online, fora o modo de customização e as configurações de jogo.
Sem ao menos contar com lojas onde há troca de pontos por conteúdos e customização de jogadores, está entregue o que nos espera. Sendo assim, pensei que ao menos os nomes dos jogadores, os estádios e os uniformes fossem licenciados. Grande engano, pois nada é licenciado. Parece até que estamos numa farmácia, afinal só há produtos genéricos. Pelo menos, para quem não domina outro idioma, tudo está em português. Se bem que de uns longos anos para cá, o incomum é não encontrar tradução para o português.
São 13 estádios e 25 seleções (femininas e masculinas). Para não dizer que não falei das flores, os estádios são bem feitos. Porém, jogar uma vez em qualquer um deles é jogar em todos. Há ainda alguns locais de treino, onde pelo menos nos comentários dos narradores (em francês e inglês) eles afirmam que aquele local é pequeno para o tamanho do jogo. Ainda assim, a mudança é apenas no visual e no som da torcida.
O que dizer então dos personagens? Rapaz, que lástima: as skins são basicamente as mesmas, e vez ou outra encontramos o mesmo personagem em times diferentes, mudando apenas a cor da pele, do cabelo e altura. Isso sem citar os nomes dos jogadores, que são no mínimo curiosos.
Online e customização erram o bloqueio
Com fé de que Spike Volleyball iria apresentar alguma coisa boa, decidi partir para a customização. Achando eu que os frutos seriam minimamente bons, que minha esperança seria renovada com alguns bons minutos de criatividade. Mas as customizações são aquelas de sempre: escolha as cores, os logos, a nacionalidade e como o uniforme será (com ou sem manga). Bem básico perto de um PES, que é conhecidíssimo por até extrapolar em suas opções de customizações. Bons exemplos não faltam, mas Spike Volleyball nos entrega, mais uma vez, algo tão raso e sem carinho quanto a tentativa de jogatinas 1×1 pela internet.
Como revisor, persisti e pensei “por que não então um onlinezinho?”. Descubro uma terra de ninguém. Tentei achar jogadores e nada. Diferentemente do que ocorre quando analisamos versões antecipadas, o game foi lançado no começo de fevereiro. Logo, deveríamos ter a mínima chance de encontrar ao menos uma pessoa. Nem revisões, nem avaliações online encontrei.
Modo carreira não arrisca o saque
Com o modo carreira, não há alívio. Sem criatividade, é um cópia mal feita do que ocorre em Fifa e tantos outros. As funções são basicamente as mesmas. Como não há times, caímos direto no comando de uma seleção. Escolha qualquer uma e parta em busca da glória. A missão? Alcançar o primeiro lugar do ranking em três anos.
Para isso, dispute campeonatos/amistosos e convoque jogadores das ligas espalhadas ao redor do Mundo. Como? Utilizando agentes, que são pagos vencendo campeonatos. Sem nenhuma surpresa e nem ao menos treinamentos, basicamente evolui-se jogadores e disputa-se partidas.
Na carreira, a falta de criatividade na construção dos jogadores e animações fica mais latente. Em todas as partidas você encontrará antigos oponentes, e as mesmas animações são arremessadas bem na sua cara. Todas as aberturas de partidas são as mesmas. Mostram o estádio, apresentam jogadores, um deles faz um saque e começa. Com a decepção desse modo, sobra então o que? O versus, contra o computador ou um amigo seu, mas, na boa, nem passe por lá.
Um sermão do Bernardinho é mais legal
Spike Volleyball é um dos jogos mais mal feitos de esporte que já joguei, e olha que gosto do gênero. Dentro do interesse por vôlei, procure títulos como Summer Heat Beach Volleyball, de Playstation 2 ou Hyper V-Ball, de Snes: garanto diversão. Saio incomodado desta review, pois jogos de esportes sempre foram bem-vindos em minha prateleira.
Até mesmo Dead or Alive Xtreme Beach Volleyball é mais divertido (os safadões de plantão dão as caras). O pessoal da Black Sheep Studio saiu devendo e muito. Admito não saber como um jogo desses sai às lojas, mas no meio desta balbúrdia toda, consideremos ao menos a tentativa em trazer de volta aos games um esporte extremamente popular, olímpico e importante na história esportiva.
Achei vergonhoso um título deste estar no mercado, ainda mais custando entre R$150 e R$250. Caso fosse apresentado na geração PlayStation 2 e afins, ou até mesmo no início de um Xbox, entenderia, mas estamos em 2019. Minha impressão final? Que eles se propuseram/focaram apenas em criar os estádios e, pelo fato de retornarem com um jogo de vôlei depois de muito tempo, todos aceitariam numa boa o que quer que viesse. Uma ideia? Dar alguns exemplares do game ao Bernard, famoso pelo saque Jornada nas Estrelas. Assim, ele poderia utilizar as capinhas do game no lugar da redonda. Pelo menos viraria notícia…