Não é apenas Superman quem sangra, os Russos também sangram. Pode parecer que não, mas este beat ‘em up vai mostrar que lá a porradaria é em outro nível. Mother Russia Bleeds é o jogo de estreia da francesa Le Cartel lançado originalmente para os PCs e PS4 em 2016, que traz um gameplay frenético ambientado na Rússia com valentões que não irão deixar barato uma conspiração que envolve altas doses de adrenalina, drogas alucinógenas e a URSS.
A foice e a seringa
Situado em uma realidade alternativa da União Soviética (URSS), quatro lutadores de rua que vivem como “ciganos” e organizam lutas para ganharem dinheiro são emboscados e levados pelas forças governamentais para passar por experimentos secretos que envolvem uma nova droga conhecida como Nekro, que pode aumentar a força dos usuários mas também causa mutações monstruosas e mortais. A coisa só piora quando eles descobrem que o governo está envolvido com a máfia para disseminar esta nova droga entre a população e, para acabar com toda essa falcatrua, eles terão de encontrar o líder e acabar com ele à moda antiga: na base da porrada.
Mother Russia Bleeds, segundo a descrição dos desenvolvedores, é “uma mistura do clássico Street of Rage com a violência de Hotline Miami”, e de fato essa é a melhor maneira de resumi-lo. É um jogo realmente sangrento, violento e frenético, no qual mesmo quando os inimigos estão caídos você pode continuar batendo neles até a morte sem piedade alguma e, enquanto estiverem convulsionando de dor, você ainda suga sua vitalidade.
O jogo é dividido em dois modos: o modo história e o arena. Todas as fases do modo história contam com um chefe, o que é comum neste gênero. Cada um deles apresenta uma maneira diferente de ser derrotado e, para tal, você deve descobrir como fazer isso. Alguns são imunes aos seus socos, outros precisam ser acertados em momentos específicos, e por aí vai.
Além disso, cada um deles é bem desafiante, principalmente nas dificuldades mais elevadas. Morrer na primeira tentativa – ou nas próximas duas ou três – tentando descobrir como derrotá-lo é uma consequência normal. Dica: sempre que possível tente dispor de uma arma de fogo em punho, você vai me agradecer por isso.
A cada fase concluída no modo história são liberados cenários novos baseados nestas fases para o modo arena. Este modo consiste em você enfrentar hordas de inimigos subsequentes até onde conseguir ir, com hordas cada vez maiores e mais fortes. Quando derrotar determinadas quantidades de hordas em cada uma destas arenas serão desbloqueados novos tipos de injeções que irão ter reações diferentes quando usadas, aumentando algum atributo específico ou fornecendo alguma habilidade especial temporária.
Ao total temos quatro personagens distintos: Sergei, Ivan, Natasha e Boris. Cada um deles possui atributos diferentes, alguns mais ágeis outros mais fortes. Sua escolha dependerá da forma como joga: talvez um personagem mais ágil seja ideal para quem domina mais os combos e tem habilidade nos comandos, já para aqueles que preferem encarar as lutas na cara e na coragem podem preferir um personagem mais resistente e mais forte para acabar com as hordas em poucos golpes.
E se tratando de um beat ‘em up, eu não poderia deixar de destacar o ponto fundamental: os golpes. Há uma enorme possibilidade de golpes e combos que podem ser executados, que envolvem socos, chutes, rasteiras, agarrões e até mesmo combinações no ar. Dominar todas elas exigirá prática, mas com certeza será gratificante acabar com uns russos a moda antiga. O termo “comer no soco” é de fato literal neste título, sem exageros, pois aqui você pode “meter a porrada” no inimigo até ele ir desta para melhor – ou pior, já que eles são seres desprezíveis que não merecem piedade – com direito até a “fatalidades”, no melhor estilo Mortal Kombat.
No início de Mother Russia Bleeds é apresentado um breve tutorial para te ensinar parte destas possibilidades, porém ele é muito raso, não apresentando nem ¼ dos golpes e combinações possíveis, se resumindo aos comandos mais básicos. Há comandos muito úteis como a rasteira ou agarrão aéreo por exemplo, que poderiam ser ensinados. Felizmente, as telas de loading apresentam estas dicas. Você também pode consultar a lista de comandos no menu de opções.
E quando seus punhos não forem mais o suficiênte no processo de aniquilação, você terá em mãos (literalmente) várias armas que poderão ser encontradas espalhadas pelos cenários ou mesmo em posse dos inimigos. Garrafas, facas, bastões de baseball e até armas de fogo, como a mais russa das armas, a AK47. Todas elas têm vida útil e se partem após determinada quantidade de uso.
E falando nessa corja de assassinos, covardes e ladrões, os inimigos apresentam uma variedade bastante vasta de possibilidades, sendo eles temáticos de cada fase e possuindo, para além do visual diferente, ataques bastante variados. Consequentemente, a dificuldade aumenta conforme se avança ao longo do jogo. Os inimigos mais chatos são aqueles que saltam: são realmente muito traiçoeiros e caso você não esquive ou use um contra ataque, irão te derrubar inúmeras vezes até acabar com eles.
A droga potencializadora utilizada vem no formato de seringas injetáveis. Essas injeções podem ser usadas tanto para intensificar seus golpes temporariamente em um tipo de frenesi – literalmente frenético e psicodélico – como também podem curar parte da sua vida ou causar outro efeito adverso dependendo da injeção previamente escolhida (desbloqueados no modo arena). Este elemento faz parte da mecânica que torna este beat ‘em up único, pois acrescenta uma dinâmica que faz com que o jogador tenha de ponderar suas necessidades e usar estas injeções com sabedoria.
Ao utilizar as injeções o personagem larga a arma que estiver segurando, o que faz sentido logicamente, mas é chato ter que ficar pegando a arma novamente ou correndo o risco de ser atacado enquanto executa essa ação. Você poderá também utilizar as injeções contra seus inimigos, causando reações diversas dependendo da injeção utilizada, como explodi-los, causar morte instantânea e assim por diante.
Um medidor ao lado da vida indica quantas doses desta injeção ainda restam. Elas podem ser recarregadas ao derrotar um inimigo e sugar sua vitalidade com a seringa, contudo não são todos os inimigos que possibilitam essa ação, somente os que ficam convulsionando. Executá-la é um tanto complicado principalmente quando se há uma quantidade considerável de inimigos ao redor tentando te matar. Afinal, ela não é instantânea: você precisa de alguns instantes para que o personagem consiga extrair a quantidade necessária para completar uma dose.
A arte da violência
O jogo é composto por artes pixeladas bem trabalhadas, com detalhes interessantes em seus cenários e personagens. Outro ponto que posso citar neste quesito são as animações dos personagens: seja atacando ou executando outras ações elas são fluidas e bem-acabadas, passando uma impressão muito boa ao jogar.
Algo curioso que existe no meio das configurações é a capacidade de alterar o filtro do display, podendo deixá-lo em formato CRT, como se fosse a tela de um gabinete de arcade, com as bordas arredondadas, listras na tela e tudo mais, dando um aspecto ainda mais clássico ao jogo.
A trilha sonora de Mother Russia Bleeds é outro fator que merece destaque, pois ela acompanha o ritmo do jogo com batidas bem agitadas, ainda mais quando se está no “modo frenesi”. São músicas das quais você talvez queira ouvir até mesmo fora do jogo. Todas elas compostas por Vincent Cassar, mais conhecido como FIXIONS na cena eletrônica.
Jogá-lo no Switch é uma experiência bastante satisfatória. Os joy-cons respondem bem e de maneira fluída, com o HD Rumble reproduzindo uma ótima resposta às ações da tela. É gratificante você realizar um combo matador e sentir a reação de cada um dos golpes nas suas mãos.
Em Mother Russia Bleeds você poderá esmagar crânios com até quatro jogadores simultaneamente em seu multiplayer local, o que torna o Switch particularmente atraente para esse tipo de jogatina. Afinal, basta você ter dois pares de joy-cons e a festa já está montada. E não há como negar que jogar este jogo com amigos é muito mais divertido e faz lembrar os velhos tempos dos fliperamas. Mas caso você não tenha companhias em carne e o osso para te acompanhar, também há a possibilidade de adicionar bots – e tenho que admitir, eles até que são prestativos.
Unindo beat ‘em up à violência visceral, Mother Russia Bleeds é quase uma obrigação para os fãs do gênero. Uma ótima pedida para quem curte jogos como Hotline Miami e uma recomendação para os amantes de um bom desafio. Com certeza será um jogo que irá animar aquelas tardes de jogatina com os amigos e fará relembrar os velhos tempos dos fliperamas. A vantagem aqui é que você não irá precisar gastar uma fortuna em fichas.