O que dizer sobre Gal Metal? Talvez tudo aquilo que você esteja pensando sobre este jogo seja o que ele realmente é. Ou talvez ele vá além e faça uma mistura louca de ideias de uma tarde ociosa de domingo. Bom, eu pessoalmente penso que a segunda opção é a mais adequada para descrevê-lo. Basicamente seu objetivo é acabar com uma invasão alien que quer destruir a Terra. Para tal você terá de reunir uma banda de colegiais japonesas para tocar o bom e velho metal para acabar com a ameaça.
Gal Metal se passa em Kichijoji (um bairro de Tokyo, no Japão) e acompanha um garoto que é abduzido por uma nave alienígena e encontra uma garota que também fora abduzida. Um alien da raça dos octópodes aparece e diz que quer destruir a Terra, pois a música irritante e extremamente contagiante do metal acabou com a paz no universo, já que junto à sonda espacial Voyager foi enviado um disco dourado com o melhor do metal. Nisso os aliens captaram o sinal da sonda espacial e não conseguirem mais para de bater cabeça, os levando à morte de tanto fazerem isso. Com tamanha abominação sonora, a vingança contra os humanos se inicia.
O garoto acorda e percebe que não está mais em seu corpo, mas no da garota (Rinko Hoshino), que é baterista da banda do clube de metal do colegial. Mas ele não está sozinho: a consciência de Rinko permanece em seu corpo e juntos eles terão de reunir a banda para tentar impedir que as forças alienígenas destruam o mundo. Ou seja, é um típico jogo japonês: tem colegiais, garotos em corpos de garotas, uma banda de metal e tentáculos.
Para acompanhar Rinko nessa missão alucinante contra os aliens octópodes, você terá suas amigas e companheiras da banda conhecida como K.M.G. (Kichijoji Metal Girls): Kia, uma garota nerd que curte ficção científica e toca sintetizador; Mani, uma patricinha que curte filmes de terror e é a baixista; Shiimi, a valentona do grupo e guitarrista principal; e por fim Erii, uma garota tímida e gentil e guitarrista base. Juntas elas terão o poder do metal para acabar com os octópodes desprezíveis.
O poder do metal
Um dos pontos fortes de Gal Metal são as diversas maneiras de se jogar, aproveitando a versatilidade que o Switch proporciona. Você poderá optar por jogar com o controles acoplados no modo portátil ou no grip através dos botões, assim como pelo touchscreen, e o modo mais divertido, com os comandos por movimento, que ficam ainda melhores com os rumbles responsivos dos Joy-Cons que realmente dão a sensação de estarmos empunhando duas baquetas e tocando.
Neste modo também você pode optar por escolher entre o Noodle Mode (modo simples) e o Drum Mode (modo bateria), que seriam respectivamente um “modo diversão” para tocar descompromissadamente, ideal para iniciantes (como eu), e o segundo um modo mais “realista” no qual exige um pouco mais de precisão e timing ao tocar, o qual está descrito como “um modo mais apropriado para bateristas”.
Eu pessoalmente não notei muita diferença entre esses dois modos, mas senti que no Drum Mode as respostas são um pouco mais precisas. Além disso é possível ajustar a sensibilidade dos Joy-Cons para uma melhor experiência ao tocar. Eu me senti literalmente igual ao cara do Wii Music da E3 de 2008 tocando.
Entre os shows você pode gerenciar sua vida e fortalecer sua amizade com suas amigas através de um sistema de atividades que aumentam ou diminuem seus atributos, que se resumem a 5 parâmetros: Moralidade, Criatividade (ou “Kvlt”, como é chamado no jogo), Coragem, Atividade e Paixão. Quanto mais alto eles estiverem maiores são as suas chances de ter melhores resultados em performances e ganhar bônus nas pontuações de seus shows. A afinidade com suas amigas melhora o entrosamento da banda e assim melhorando o resultado das performances durante os shows.
Cada uma destas atividades requer tempo e pontos de estamina para serem executadas. Ou seja, você vai ter que gerenciar suas atividades de acordo com o atributo e amizade que deseja fortalecer naquele momento. Tanto o tempo quanto a estamina são reabastecidos ao final de cada dia. Cada capítulo conta com uma certa quantidade de “tempo livre após a escola” para ser gerenciado até o dia do próximo show, cujo a contagem é exibida na tela.
Esses momentos de gerenciamento entre os capítulos são um pouco confusos de início, pois é apresentada uma lista de atividades com diversas opções de escolha, um mapa com a localização de suas amigas e os pontos de ação e tempo. Jogadores pouco habituados com esse estilo de gameplay podem ficar perdidos, mesmo lendo as diversas páginas de tutorial que o jogo apresenta.
E falando em ler, isso é o que você mais irá fazer nesse jogo. Os fãs de jogos japoneses se sentirão em casa com esse tipo de jogabilidade, onde é apresentada uma enorme quantidade de texto antes de ir para ação. E quando você pensa que vai começar a ação, ela dura pouco e novamente recebemos mais uma avalanche de história ou tutoriais. E como a história é simples e cheia de clichês, o excesso de texto acaba ofuscando o lado rítmico/musical do game. Por sorte, dá pra pular tudo a qualquer momento.
E já fazendo um gancho, se você espera por algo parecido com Guitar Hero ou Rock Band, você não vai encontrar aqui, tanto na quantidade de músicas para tocar quanto no aspecto musical no geral. Apesar do jogo se propor a ser do gênero rítmico e musical, ele divide seu foco com a história e gerenciamento de atributos e afinidade. Além disso, o gameplay musical é bastante raso se comparado aos clássicos de guitarra de plástico ou mesmo PaRappa the Rapper e Gitaroo Man Lives. O jogo está mais para um adventure com elementos rítmicos do que um jogo musical propriamente dito.
Mandando um Zap
Há momentos entre os capítulos, normalmente durante o tempo em que a protagonista está na escola, em que ela troca mensagens pelo celular com as amigas. Com uma interface muito semelhante aos apps de mensagens populares, nestes momento você acompanha as garotas conversando sobre assuntos aleatórios ou marcando algum rolê pela cidade ou mesmo para ir ao clube e praticar um novo som para entreter os aliens.
Durante essas trocas de mensagens haverá momentos em que você poderá responder algum convite ou assunto em questão através de um sistema de múltipla escolha muito semelhante ao visto em jogos de point ‘n click, que os fãs da Telltale Games (que descanse em paz) logo vão reconhecer. Nessas ocasiões serão apresentadas duas opções de resposta, que você terá de escolher antes que o tempo no cronômetro se esgote. Porém, diferente dos jogos da finada Telltale, essas opções são simples e não impactam no decorrer da história, apenas destravando alguns eventos que irão alterar sua afinidade com as amigas.
Gal Metal tende a ser bastante repetitivo, principalmente na ordem em que as ações são realizadas durante os capítulos. Sempre haverão os momentos de história seguidos pelos momentos onde a protagonista irá para a escola e irá trocar mensagens durante as aulas com suas amigas pelo celular, seguido do gerenciamento da sua vida, show contra os aliens e o desfecho do capítulo. E tudo se repete novamente, no capítulo seguinte.
Toda a história é contada através de mangás e a arte durante as cutscenes (e em boa parte do gameplay também) são bonitas e se assemelham aos quadrinhos japoneses, com direito até à efeitos fonéticos de ação. Porém, os gráficos 3D durante o gameplay musical são modelos em 3D sem muito polimento. Mesmo usando a engine CriWare, popular em jogos japoneses que constituem um visual anime, faltou capricho. Curiosamente, os instrumentos musicais são bem ricos em detalhes e totalmente licenciados com marcas como Yamaha e Roland.
Em cada uma de suas performances você terá de superar uma pontuação predeterminada para poder derrotar os aliens. Em algumas delas eles tentarão te impedir atrapalhando de alguma maneira, jogando tinta em sua bateria (algo parecido com o power-up do Blooper, o polvo, no Mario Kart) ou desativando as caixas de som. Você precisará tocar os pratos de sua bateria para criar um som agudo e detê-los.
Performático
Diferente de franquias como Guitar Hero ou Taiko No Tatsujin (Taiko Drum Master, no ocidente), em Gal Metal você ganha pontos por executar melhores performances e não por tocar perfeitamente. O que vale aqui é o seu freestyle e, por essa razão, é interessante ir nas sessões de prática solo ou em grupo para treinar as músicas dos próximos shows, assim se inteirando e aperfeiçoando. Não haverá punições por errar ou deixar de tocar uma vez que não há nada visual para acompanhar, mas quanto melhor você tocar e mais combos fizer mais pontos ganhará, resultando em uma melhor nota no ranking ao final de cada show.
As músicas presentes em Gal Battles são bem animadas e divertidas de tocar (caso você tenha habilidade para fazer diversos combos no arranjo). Apesar de não contarem com vocal, as músicas possuem um ritmo eletrizante e com batidas fortes.
Os shows funcionam como “chefões” de cada capítulo, sendo 13 ao total. Se quiser refazer um capítulo e consequentemente melhorar seu desempenho em algum show, você poderá fazê-lo através de saves e sem precisar jogar toda a história novamente. Só fique esperto com os saves, pois o game não salva automaticamente o seu progresso.
Apesar do modo história não ser muito desafiador, após finalizar cada capítulo você terá à disposição cada uma das músicas para tocar no modo “Freeplay” e desafiar os chefes de cada capítulo em um modo mais insano com pontuações extremamente altas para superar. O fator replay é considerável, não só para atingir o ranking máximo mas também completar a coleção de badges (conquistas) do jogo.
Gal Metal é um jogo que começa lento, mas vai melhorando ao decorrer da história. A diversão vem com força ao aprender a tocar melhor e fazer combos durante os shows. É um jogo com altos e baixos, que pode frustrar quem procura por um jogo rítmico/musical, mas que no fim entrega uma experiência satisfatória. E pra quem curte bateria, certamente irá se surpreender com o que o game oferece.