Sempre gostei bastante de Naruto e principalmente dos jogos dessa franquia, os quais acompanho desde o PlayStation 2. Depois de Naruto Shippuuden: Ultimate Ninja Storm 4, o sexto e último desenvolvido pela CyberConnect2, minha expectativa por um novo jogo era algo ainda maior. Afinal aquele foi o game responsável por encerrar a história antes mesmo do animê, com adições muito boas ao gameplay e com sequências de luta e animações de tirar o fôlego. Com o anúncio de Naruto to Boruto: Shinobi Striker, com diversas propostas diferentes da fórmula desgastada dos demais títulos, a Soleil prometeu revolucionar a era dos ninjas e agradar os antigos fãs e os novatos que vinham acompanhando a nova animação produzida pela Pierrot e exibida pela TV Tokyo.
Ao jogar e conhecer essa nova proposta, a primeira sensação é a mesma de quem passou mais de 15 anos com Naruto e explorou um novo mundo em Boruto: Naruto Next Generations. Tudo parece familiar, com um sentimento de estranheza que não consigo explicar. Ao mesmo tempo em que tudo parece estar lá, me peguei diversas vezes procurando o que desejava e não encontrando aquele velho sentimento.
Cadê o filho do Hokage?
Naruto cresceu, venceu seus inimigos (e amigos), viu sua vila ser destruída e encerrou uma história de dezenas de jogos com o melhor título da franquia, oferecendo sempre excelentes narrativas, traços e animações. Agora temos Boruto, com uma proposta nova e mais próximo de uma fanbase jovem, já com um novo jogo lançado exatamente para acompanhar essa evolução e mudanças. Ou seja, com foco em um público que prefere partidas online, jogabilidade frenética e competição acima de tudo. No entanto a Soleil, nova desenvolvedora responsável pela franquia (e não mais a CyberConnect2), resolveu sacrificar muito do que já havia dado certo para buscar uma nova fórmula.
Esqueça o modo história, um mundo (ou Konoha) para explorar, interação com diversos NPCs e personagens conhecidos, pois agora você terá uma Xenoversização dessa franquia, oferecendo apenas uma hub inicial contendo as opções disponíveis: dois locais para partidas online, campeonatos e missões (online ou offline), dois locais para compra de itens e customização do seu personagem, além de um local para você escolher qual personagem será o seu mestre durante o jogo. Fora esses cinco locais no “centro de Konoha”, o cenário é simples, vazio, limitado e com muitas paredes bloqueando os acessos.
Diferente dos demais, aqui não temos nossos personagens preferidos para escolher e sim criarmos nosso próprio avatar. E aqui chegamos em um ponto altíssimo e divertido do jogo: criar e ter seu próprio personagem. De início um pouco limitado, mas abrindo para milhares (literalmente) de itens desbloqueáveis. Essa ideia de ter o jogador como um personagem desse universo em histórias/missões inspiradas nos acontecimentos do desenho animado é que mostram a intensão da Bandai Namco em fazer um Naruto Xenoverse, assim como foi para Dragon Ball.
A ideia é boa, já que renova a franquia com “material inédito” para serem feitas, consumidas e exploradas, sem desgastar algo já utilizado anteriormente. No entanto não termos a opção de jogar offline ou um modo história, até mesmo um modo versus local para você jogar com seus personagens preferidos, não é bem uma decisão sábia da desenvolvedora.
Nesse sentido One Piece, Dragon Ball e Nanatsu no Taizai são exemplos recentes mais amigáveis e democráticos, agradando a maioria dos fãs. Se não fossem as missões, o título “Naruto to Boruto” (De Naruto para Boruto em inglês ou Naruto e Boruto em japonês) não faz sentido algum por não disponibilizar o elenco do novo animê como conteúdo e opção de jogo.
Frenético e com chakra infinito
A proposta das partidas online substituíram as arenas com lutas cadenciadas e estratégicas para uma completa desordem em cenários abertos. Com quatro modos diferentes de jogo, você estará em uma equipe de ninjas atrás de um único objetivo: batalha estilo campeonato, roubar bandeiras, batalha de bases e batalha de barreira, que no fim você enfrenta um chefão – aí entram as Bijuus e demais personagens invocados por selos.
Indo contra a fluidez e agilidade necessária para a mobilidade do personagem pelo cenário, já que a jogatina está sempre contra o relógio, a movimentação da câmera acaba atrapalhando um bocado. Como se não fosse o suficiente, correr, atacar e sobreviver acaba sendo uma tarefa difícil por conta dos problemas de conexão e sistema de mira que não favorece o gameplay frenético.
Seja pelo lag, erro da mira ou pela visão do personagem, muitas vezes me via batendo ou apanhando sem saber porquê. Parecia estar tomando dano do ar, pois meu personagem sofria ataques corpo-a-corpo sem nem estar próximo do inimigo. Isso sem contar quando eu me aproximava de alguma parede e a câmera ficava presa, sem deixar eu me desvencilhar daquele local.
O que agrava ainda mais esse aspecto são dois pontos críticos: a curva de aprendizagem é inexistente, já que o modo de missões não oferece o mesmo desafio das partidas online. Além disso, ao contrário de jogos como Fortnite e Overwatch, que também são rápidos, o seu nível não interfere muito em sua progressão ou nas partidas. Em Shinobi Striker, ao iniciar você logo alcançará o level 10 com as missões básicas, porém ao entrar numa partida o matchmaking parece não levar a diferença de nível em conta. Diversas vezes meus adversários estavam acima do 70.
O problema não é o progresso dos outros, mas sim que isso também oferecerá itens que modificam status, além de armas melhores, jutsus ainda mais fortes e a mecânica dos mestres; esta faz com que 20 personagens da série sejam utilizados como senpais dos jogadores e ofereçam jutsu, habilidades, diferenciação de status e itens para serem desbloqueados. Ou seja, a parte legal da customização e diversidade de conteúdo que pode ser utilizado por você acaba virando um pesadelo no competitivo para quem está começando ou não tem muita familiaridade com o universo do jogo.
Como se não bastasse isso, a comunidade desse jogo me lembrou muito a de Call of Duty, pois pouco se importam com a estratégia ou real objetivo do jogo. O que realmente importa é atacar, derrotar seu personagem e ganhar mais pontos, que também serve como dinheiro. Esse descaso com as classes (ataque, ataque a distância, defesa e cura) acaba fazendo com que aquele gostinho de ter embates épicos em equipe, assim como víamos no animê, seja impossível de ser trabalhado. O pior é ver que a galera até tenta, mas a maioria dos jogadores só utiliza ataque a distância, pois parece que por falta de balanceamento é a classe que consegue causar mais dano e abrir espaço para os objetivos serem conquistados.
Ao som de Sadness and Sorrow
A parte legal desse gameplay maluco é poder usar qualquer jutsu, ter sua aparência misturando as características mais marcantes do animê, além de andar livremente pelos cenários, inclusive pelas paredes e água, o que era praticamente impossível nos jogos da CyberConnect2. Aqui seu chakra é infinito e você não precisará se preocupar com isso para perseguir e atacar seus oponentes, inclusive contando com um novo pulo com R2 que fará você percorrer grandes distâncias.
Com a trilha sonora já conhecida pelos fãs, o visual cell shading (criado à partir de uma engine totalmente nova) fortalecendo a proposta de um animê interativo, mesmo quando o jogo não tem gráficos tão bonitos quanto seus antecessores, Naruto to Boruto: Shinobi Striker acaba sendo uma opção a se considerar. O fan service é imenso, porém o mais importante aqui é você encontrar um modo de jogo que agrade o seu estilo e tentar não se frustrar com a dificuldade desbalanceada. O que faltou mesmo foi um modo offline ou local e com as mesmas opções do modos online.
Talvez eu já não seja o público-alvo desse jogo ou os trailers tenham feito a minha expectativa aumentar demais, principalmente por utilizarem sempre os personagens mais queridos da franquia em situações praticamente inexistentes. No fim, para quem jogou toda a série até hoje, a surpresa não foi somente ter um jogo totalmente novo e feito do zero, mas perceber que a tendência é termos jogos mais próximos do público acostumado com MMO, MOBA e Battle Royale.