Como funciona o Nuzlocke em Pokémon?
- Regra 1 – Apenas o primeiro Pokémon de cada local visitado pode ser capturado. Se derrotá-lo em batalha, sua chance se perdeu ali.
- Regra 2 – Se o seu monstro de bolso chegar a 0HP, terá de descartá-lo do seu time.
- Regra 3 – Caso a sua equipe inteira perder o combate, você recomeçará o jogo do zero.
Caros leitores, se eu pudesse dar um conselho a cada pessoa que entrasse no desafio Nuzlocke, seria para não se apegar. O início de Pokémon FireRed foi super tranquilo, assim como você pôde conferir na Parte 1 e na Parte 2, com a Misty dando um pouco de trabalho, mas meu time não teve nenhuma baixa até ali. Apesar de um perrengue pequeno em alguns cantos, eu estava muito confiante em minhas capacidades perante a jornada.
De frente ao ginásio de Vermilion, onde Lt.Surge é o detentor da Insígnia do Trovão, eu já dei a batalha por vencida antes mesmo de adentrá-lo. Com Graveler em meu time, não tinha nada que acontecesse ali que me assustaria. Sem o menor grau de pudor e já pulei para as batalhas, onde meu monstro do tipo Pedra e Terrestre nem precisou piscar para varrer os times inimigos. Com a técnica Dig, não sobrou uma faísca por lá, já pedindo perdão pelo trocadilho para vocês.
Porém, o que eu acabei esbarrando numa muralha nem foi contra outros Pokémon ou qualquer outra batalha. Antes mesmo de enfrentar o Líder de Ginásio, você tem de passar por um puzzle envolvendo as lixeiras do lugar, que desativarão as correntes de energia para te dar passagem até ele. Você lembra a combinação exata para anular isso? Meu, eu não jogo isso há cerca de 15 anos. Mal lembro qual dia fui no supermercado durante essa semana, imagina me recordar dessa informação.
Red VS Lixo
Antigamente, ainda na época do primeiro PlayStation, eu costumava anotar códigos e combinações em ficheiros. Eu era muito sistemático, fui numa papelaria e comprei um conjunto com cerca de 100 fichas e anotava tudo ali. Por exemplo, eu tenho até hoje a exata sequência de elementos que devia utilizar no último chefão de Chrono Cross para desbloquear o final secreto, qual descobri na época sem a ajuda de nenhuma revista. Adivinha o que eu não tinha? A bendita combinação do lixo.
Quando você se propõe a entrar no desafio Nuzlocke, acredito fielmente que não será um latão destes que vá te impedir ou te fará pedir arrego ao pesquisar na internet. Sendo teimoso, até demais, passei cerca de uns 20 minutos tentando lembrar, entre acertos e erros, como era o procedimento. Me senti um completo palhaço quando me lembrei, após conseguir acertar na mais pura sorte. É algo tão besta, basta encontrar a primeira que a próxima estará ao lado…mas ok, sofri a primeira derrota e já não queria perder mais tempo.
Com o Lt.Surge em minha frente, o combate já inicia com Voltorb e não estava mais brincadeiras após o baile do lixão. Já joguei o Graveler, que arrebentou a bola explosiva e Pikachu, o segundo monstro de bolso jogado por ele. Não duraram 30 segundos os dois contra mim. Assim como o Onix de Brock e a Starmie de Misty, Surge também tem um Pokémon mais poderoso na manga que vem na forma de Raichu. Basta uma pedra do trovão que o mascote evolui para ele, tornando-o numa verdadeira ameaça eletrizante.
Mas ameaça para quem? O Rollouter tem esse nome não apenas por sua forma esférica ou por ter a técnica Rollout como uma de suas estratégias. Agindo como um verdadeiro rolo compressor, não sobrou absolutamente nada do Raichu para contar a história. Nem mesmo utilizando Double Team ele se salvou, recebendo um golpe vindo diretamente debaixo da terra e perdendo de forma histórica. Assim, consegui a sua insígnia e já juntava três delas nas mãos. Faltavam apenas cinco e senti que nada me impediria de atingi-las.
Perdendo a batalha, Surge me deu o TM para utilizar a habilidade Thunder Wave e a permissão para utilizar o HM Cut. Ensinei a técnica para Joan, o que ajudaria demais em minha jornada. Além de ser um golpe poderoso, o Cut também pode cortar árvores que bloqueiam as rotas e também a grama ao redor do protagonista, impedindo que Pokémon selvagens apareçam de surpresa. Se você teme algum combate, é uma das melhores alternativas a serem usadas.
A partir daí não poupei esforços, voltei a viajar por todos os lugares de Kanto cujas árvores me bloqueavam anteriormente. Através da Caverna dos Digletts voltei para a Rota 2, onde tinham alguns itens para coletar. Dali parti para a cidade de Pewter e alcancei a entrada alternativa que fica atrás do Museu do local. Lá os cientistas me ofereceram um Old Amber, que no futuro poderia se tornar um Aerodactyl. Mas da mesma forma como o Kabuto que eu nunca veria, larguei mão do item dentro da mochila e segui viagem.
Aproveitei para treinar um pouco a minha equipe, me preparando para os próximos passos. Afinal de contas, só tinha um Pidgeotto para enfrentar Erika, a próxima líder de ginásio. Próximo ao lv.30, minha paciência se acabou e decidi seguir logo para o Rock Tunnel. Encontraria outros treinadores, Pokémon mais fortes e o treinamento continuaria na prática mesmo. Quem nunca fez isso num grinding que atire a primeira pedra. Voltando à Cerulean, abri caminho através do Cut e segui pela Rota 9 para chegar onde queria.
E, para a minha surpresa, surgiu outra Ekans em meu caminho. Temendo matá-la, nem a ataquei e joguei a Pokéball direto. Tão teimosa quanto eu, demorou umas 3 a 4 jogadas e meu Dustin envenenado, mas valeu a pena. Agora meu time estava completo, com seis monstrinhos. Aproveitei o local para aumentar o nível dela, evoluí a criatura para a Arbok e me senti parte da Equipe Rocket. Quem assistia as primeiras temporadas da animação sabe, saudades desta época.
Porém, percebi a razão de Jesse sempre perder as batalhas contra os demais. Digo, a personagem do desenho, apesar de ter colocado o mesmo nome na minha serpente. Seus golpes são fraquíssimos e o único movimento que realmente oferece um dano real aos inimigos é o Bite. Convenhamos, esse não é o melhor ataque que pode ter em seu arsenal, mas a habilidade Intimidate viria a calhar. Com ela, a Arbok tira 50% do poder de ataque físico dos oponentes e ajuda o time inteiro a segurar a onda em batalhas mais acirradas.
Já na Rota 10 capturei um Spearow, qual movi sem pensar 2x para as boxes do Centro Pokémon. Com um Pidgeotto a caminho de se tornar um Pidgeot, ele não seria de muita diferença dentro da equipe que já continha os seis principais. Será que daria para vencer a Liga com um futuro Blastoise, Raticate, Butterfree, Pidgeot, um Graveler e uma Arbok? Sempre acreditei que não, porém com a facilidade de tudo que me deparei até aqui, estava começando a acreditar.
Pokémon e uma morte obscura
No Rock Tunnel, tomado pela escuridão, ensinei Flash para o Dustin e segui visualizando tudo em meu caminho. Finalmente me veio um Mankey como o primeiro Pokémon visto, qual joguei a Great Ball para garantir logo a criatura também. Inicialmente eu planejei ele na equipe, então a adição futura obviamente seria implementada. Com tudo dando certo, quem iria dizer que eu veria uma verdadeira tragédia vindo a seguir?
Com treinadores e monstros selvagens aparecendo com frequência, a rotatividade do meu time passou a agilizar com todos aumentando de nível. Chegando na vez de Dustin, meu Butterfree, a preocupação logo veio, já que a maioria das criaturas vistas eram do tipo Pedra. Mas como afirmei anteriormente, a confiança estraga as coisas e pensei “bom, meu ataque Confusion pode não ser grande coisa, mas está derrubando todos em seu caminho. Não dará dor de cabeça” e continuei com a minha ideia como se fosse a melhor de todo o mundo.
Inclusas na geração Ruby/Sapphire, as habilidades dão um elemento a mais aos jogos da série. Por exemplo, Arbok com sua Intimidate ou um Pikachu e Raichu com Static, que tem 30% de chance de paralisar qualquer adversário que entre em contato físico contra eles. Às vezes elas te oferecem uma surpresa, mas alguém experiente como eu devia saber o que esperar, não é? A resposta foi um grandioso NÃO, em forma de um mero Geodude que surgiu em minha frente.
Meu Dustin soltou o Confusion, que tinha já derrubado alguns Pokémon como eu previ, porém a vida do ser rochoso manteve 1HP. Ali já veio na minha cabeça a falha. Eu não lembrei que eles poderiam aparecer com a habilidade Sturdy, que mantém essa fagulha de vida em golpes que poderiam derrotá-los de uma vez só. O suor frio escorreu por minha testa, mas estava tudo bem, talvez ele usasse um Sand Attack na próxima e eu venceria. Cometendo um dos meus maiores erros, mantive Butterfree e tomei um Rock Throw.
Voltando a tabela de tipos, o Butterfree é do tipo Inseto e Voador. Ambos possuem fraqueza contra golpes do tipo Pedra, o que significa uma ameaça de qualquer golpe causar até 4 vezes o poder original de dano. Mesmo com o seu oponente no nível 20 e você no 30, essa multiplicação é extremamente perigosa. E se eu te dissesse que, para complementar a causa, o golpe foi um Critical Hit? Não teve outro resultado, Dustin foi a primeira queda que meu time obteve, atrapalhando de vez a estratégia que montei.
Assim como o Ash no anime, me despedi dele e tentei seguir viagem depois de xingar a Game Freak, a Nintendo, Arceus e tudo que tinha direito. Ele realmente era uma peça essencial do time e eu contava com suas técnicas para o futuro. Indo até o Centro Pokémon anterior para dar Release na criatura, coloquei Mankey no lugar e voltei ao Rock Tunnel. O primeiro baque foi relembrar que o inseto carregava consigo a técnica Flash e, sem ela, é um tormento enorme passar pela caverna. Mesmo sendo um HM, qual poderia usar a qualquer momento, quem disse que qualquer outro monstro que capturei aprendia?
Me perdi umas 10 vezes dentro daquele lugar, enfrentei vários treinadores, voltei para o mesmo andar em algumas voltas que dei, não parava de aparecer Pokémon selvagens e o que eu podia fazer? Nem precisei me culpar pela burrice, o jogo estava me punindo de uma forma tão absurda que eu parei para respirar antes de salvar ali no meio e desistir daquela partida naquele momento. Nem meu Mankey sobreviveu lá dentro, sendo o segundo do meu grupo a morrer dentro do mesmo local.
Nada como um Onix utilizando um ataque Magnitude que atingiu o poder 9 para matar ele e a minha confiança de vez. Três insígnias que vieram de forma até que tranquila me deixaram descuidado e o Rock Tunnel foi a resposta do Desafio Nuzlocke para essa audácia que eu estava formando. Passei por dez rotas, algumas cavernas, ginásios e minha equipe esteve intacta. Bastou um lugar onde minha sorte não bateu tanto para derrubar não apenas um, mas dois de meus Pokémon. Uma baita sacanagem, vou te contar, viu?
Finalmente saí de lá e enfrentei mais uns treinadores para chegar até Lavender Town. Ali eu me depararia com a Torre Pokémon, o lugar onde os monstrinhos de bolso repousam a sua alma. O maior cemitério vertical de Kanto, lar dos fantasmas e com desafios macabros me esperava. Porém, sem o Silph Scope, a subida ali seria completamente sem sentido. Numa das residências também descobri que o Sr.Fuji, usuário da PokéFlute, estava preso lá dentro e eu teria de libertar o idoso para poder abrir caminho através dos Snorlax.
Fiz a reposição dos itens de cura que gastei, recuperei o HP e os PP de meus Pokémon, realizei uma verificação inteira na cidadela para tirar o peso da minha consciência e preparei a mochila para seguir viagem. Se bem me recordava, a Silph Scope estava em poder da Equipe Rocket em seu esconderijo de Celadon. E é para lá que eu iria, aproveitando para desafiar o ginásio da cidade, com Erika e seus monstros do tipo Planta. Mais uma aventura me esperava e, com ela, novos membros do time e o adeus de outros.
Continua…