No começo da década de 1980, a Atari lançava um sucesso dos arcades que, ao seu próprio modo, foi revolucionário: Tempest. Além de ser o primeiro jogo da Atari a usar uma nova tecnologia, foi o primeiro título de arcade que permitia que o jogador começasse a jogar da fase que bem entendesse. Pra fechar com chave de ouro, também foi o primeiro a explorar um sistema de níveis diversos, sempre alterando o layout das fases e oferecendo novos desafios ao jogador, ao invés de usar sempre o mesmo layout com uma dificuldade crescente.
Tudo isso deu a Tempest o seu lugarzinho no hall da história dos games, e hoje, 37 anos depois de seu lançamento, a Atari resolveu pagar tributo ao seu clássico e trazê-lo de volta de uma maneira totalmente re-imaginada. Senhoras e senhores, com vocês: Tempest 4000.
O bom filho à casa torna
O primeiro parágrafo continua resumindo perfeitamente o que é Tempest, porque tudo ali ainda se aplica no 4000 – podemos até chamá-lo de remake. Ele ainda funciona como um jogo de arcade: você simplesmente aperta um botão para começar a jogar e vai pulando de fase em fase, aumentando seu placar e conquistando o topo das pontuações.
Pode-se selecionar a fase que quer jogar, mas primeiro é preciso chegar nela para desbloqueá-la, então como em qualquer jogo normal, você começa só com o primeiro nível desbloqueado e libera os outros conforme avança, com uma dificuldade que cresce progressivamente ao longo de 100 fases! Isso mesmo, 100 fases, e o desafio aqui não é desbloquear todas, mas sim concluir o percurso perfeito como se estivesse jogando em um arcade: começar da fase 1 e chegar até a 100 sem dar game over.
Cada fase possui seu próprio layout e visual, mas o resto é bem igual ao jogo original. Você tem a sua nave (que se chama Claw), que pode andar para qualquer cédula do layout, que sempre serão prismas geométricos, enquanto os “alienígenas” avançam pela frente e devem ser explodidos com seus projéteis. Se algum deles chegar até a borda onde você se encontra, eles podem te agarrar e te puxar para fora do mapa, o que lhe custa uma vida – alguns outros também conseguem te matar de outros modos, mas basicamente é isso aí.
Matar uma série de inimigos com sucesso te recompensará com power-ups, como mais projéteis, uma esfera que te auxilia na matança e bombas para fazer um show de luzes no cenário. Agora que entramos no mérito das luzes, vamos falar um pouco do que torna Tempest 4000 tão difícil.
Um show de psicodelia
Este remake resolveu seguir a mesma vibe do Tetris Effect da Sony: seu visual é completamente psicodélico, com luzes vibrantes combinadas com efeitos o tempo inteiro e muita música eletrônica. As mecânicas do jogo original continuam ali, intactas, mas o visual foi todo repaginado para ficar mais bonito e atraente e… nesse caso, pra deixar a coisa bem difícil.
Não vou reclamar do visual do jogo porque me agradou bastante, mas o problema aqui é o quanto ele consegue te atrapalhar no meio dos tiroteios. Os inimigos avançam em grandes quantidades e você deve impedi-los de chegar à borda a qualquer custo, mas quanto maior o combo que você está criando, maiores serão as explosões e portanto distorções e efeitos na tela, tornando impossível de se entender o que acontece em tela. Depois que a poeira baixa, os inimigos já chegaram em seu encalço e se perde uma vida de bobeira.
Alguns cenários favorecem bastante o jogador, contanto que sejam circulares: basta segurar o analógico para um lado só e não soltar mais o botão de disparo, matando todos os inimigos sem se esforçar. Porém, nem sempre teremos tudo de mão beijada, e quando a coisa fica mais complexa, somos novamente traídos pela psicodelia e fica difícil estabelecer uma estratégia ou premeditar nossos movimentos no meio daquele caos – você simplesmente só vai atirar pra todo lado sem saber o que fazer, torcendo pra não morrer.
Do resto, não há muito a acrescentar. A trilha sonora não é marcante, mas é boa o bastante para a proposta e contribui bem para toda aquela psicodelia em excesso. A jogabilidade não poderia ser mais simples, então também não presenciamos bugs e nem tivemos problemas com controles pouco responsivos.
Tempest 4000 é uma boa pedida pra quem jogou o original nos arcades e quer revisitá-lo, ou também pra quem não pegou essa época e quer saber como é. No entanto, podemos tirar uma reflexão interessante disso tudo: no final, o que acabou sendo o maior problema do jogo foram suas melhorias gráficas, que atrapalham bastante o desempenho do jogador.
Talvez esses clássicos de arcade não precisem de gráficos modernizados para que se sustentem, porque já são perfeitos do jeito que são, e o fato de serem minimalistas não os deixam menos desafiadores ou duradouros. Ainda assim, é interessante ver que Tempest 4000 é na verdade uma representação visual de como o jogo era enxergado em sua época, mesmo que se tratasse apenas de uma tela preta com linhas azuis e uma navinha amarela.