Cinquenta horas em Plants vs Zombies. É uma marca para a qual eu olho no meu Steam e tento entender o que aconteceu com minha vida naquele período, onde um jogo repetitivo com personagens fofinhos ousou ocupar um tempo normalmente reservado a RPGs épicos ou FPS multiplayer com os camaradas. Cinquenta horas em um jogo é um fenômeno que impressiona, não somente pelo fato de ser um número assim redondo, mas principalmente pelo fato de que não tenho lembranças de ter passado esse tempo todo em Plants vs Zombies.
Não me entendam mal. O simpático título da Popcap Games é possivelmente o melhor em seu gênero e arrebatou tantos jogadores no mundo todo que rendeu um polpudo cheque de 750 milhões de dólares por parte da gigante EA, embora outros títulos como Zuma, Peggle e Bejewelled também contribuíram para a avaliação da empresa. Mas há algo na fórmula dos jogos tower defense para a qual eu sou claramente vulnerável. O nome disso é vício.
A marcha implacável
Essa fissura por títulos do gênero parecia pertencer ao meu passado, mas vi meu cérebro novamente parar de funcionar e marcar o tempo com Battle of Kings, um jogo que nem de longe se aproxima da complexidade ou da simpatia da luta entre plantinhas e zumbis. E ainda assim, o efeito foi o mesmo: deixei de lado títulos mais sofisticados para disputar “só mais uma batalha”, desbloquear “só mais uma unidade”. Quando dei por conta, tinha completado a campanha de Battle of Kings e estava livre novamente para avaliar o que tinha feito da minha vida.
Nesse ponto, eu agradeço: o modo campanha é extremamente curto, uma sucessão de cinco batalhas em três ilhas diferentes, introduzidas por uma historinha qualquer sobre príncipes em conflito e que não convida ao retorno. Não se iluda. Você não irá encontrar nenhum dos personagens mencionados na abertura.
A falta de variedade entre os cenários entrega a simplicidade do jogo e cada ilha apenas traz um bioma novo que não exerce qualquer impacto na jogabilidade. Seja na floresta, na neve ou no deserto, você irá disputar partidas extremamente parecidas entre si. Ao contrário de Plants vs Zombies, onde temos múltiplas linhas por onde os inimigos se aproximam, aqui temos a abordagem tradicional de linha única, uma via tortuosa que pode ser ladeada por torres de defesa.
Infelizmente Battle of Kings oferece apenas sete tipos de unidade, com um claro desequilíbrio entre eles, cada uma com três evoluções possíveis. A melhor estratégia acaba sendo espalhar a maior quantidade possível de um único tipo, intercalada com uma ou outra diferente para dar variedade e evoluir quando sobrar dinheiro. Não é nada que exija muito raciocínio e serve para relaxar depois de um dia atarefado, a maquinal e brutal linha de torres devastando os inimigos a cada metro avançado.
E os inimigos avançam para a morte mesmo assim, tão desprovidos de variedade quanto as próprias torres, mudando apenas seu nível de resistência e sua velocidade, uma vez que todos causam sempre o mesmo dano quando conseguem invadir seu castelo. Não espere arqueiros disparando flechas ou catapultas arremessando rochas. Em Battle of Kings todos são iguais em sua única ação: marchar para a frente para morrer ou alcançar o final do “corredor polonês”. Pelo menos, torres e soldados são bem modelados e o narrador, com uma voz de mestre ancião, elogia sua estratégia (mesmo havendo tão pouca) ou tenta levantar o moral quando um inimigo atravessa, o que ajuda a criar uma empatia mínima com esse universo.
A desenvolvedora por trás do jogo, chamada de Battle of Kings Team, até tenta acrescentar alguma novidade ao gênero com um modo batalha que pode ser disputado contra o computador ou contra outro jogador. É uma versão baseada em turnos da mesma jogabilidade e hora você defende seu caminho do exército inimigo, hora você acompanha seu próprio exército pelo caminho do inimigo. Há uma leve camada de planejamento para que você escolha quais unidades deseja enviar ou evoluir e uma torre de mineração que pode ser otimizada para extrair mais ouro e sustentar sua campanha. Entretanto, assim que abrem os portões e as tropas avançam, é cada um por si e seus homens avançam para a morte ou a glória da mesma forma descerebrada de sempre.
O rei está nu!
No formato em que se encontra, Battle of Kings peca pela extrema simplicidade. Se não tenho uma explicação clara para ter “perdido” 50 horas em Plants vs Zombies e sua polida variedade de modos e unidades, menos explicação encontro agora para as horas que investi neste game. Tenho certeza que apenas a inércia e o vício me impulsionaram até o final da campanha e algumas batalhas contra o computador. Com muitas partidas durando mais de 20 ondas, é fácil entender como as horas se acumulam e a sensação de não chegar a lugar algum também.
Qualquer um com mais juízo do que eu desistiria fácil depois de duas batalhas, afinal, é tudo que se precisa para ver tudo o que o jogo tem a oferecer no momento. Apesar de já ter sido lançado para Realidade Virtual em fevereiro desse ano, Battle of Kings para PC é essencialmente o mesmo jogo e ainda se encontra em Acesso Antecipado. Se há planos para novas mecânicas, novas unidades ou novos inimigos, a desenvolvedora mantém o silêncio.