Tendo como inspirações Lone Survivor e The Cave, The Long Reach é um adventure survival de horror pixelado. Parece uma combinação inusitada, mas que se mostrou bastante intrigante. Não só isso, ele também lida com a psique humana, em um pesadelo orquestrado por uma força maior.
Um homem, uma lanterna e muitos pesadelos
O jogo acompanha Stewart, um dos funcionários da empresa General Education, em meio a um pesadelo (seja ele real ou não) pelas ruas da fictícia Baervox em New Hampshire, numa fuga pela realidade envolto num clima natalino e macabro.
The Long Reach tem uma ótima apresentação, surpreendendo desde o início e te jogando diretamente no meio da história, sem uma introdução prévia do que está acontecendo. E essa sensação de surpresa se repete no decorrer do jogo, com situações bruscas que mudam sua percepção da história.
O funcionamento básico do jogo é idêntico aos clássicos jogos de adventure: você anda, coleta itens, volta aos locais antes inacessíveis, utiliza os itens, resolve puzzles e assim vai avançando.
Enquanto joga, se você já teve alguma experiência com algum jogo de survival horror lá dos tempos do primeiro PlayStation e afins, vai notar uma familiaridade: ter de selecionar o item que deseja usar para assim realizar a ação no local determinado. Para alguns pode ser algo nostálgico, para outros mais acostumados a algo mais automático, pode ser irritante abrir o inventário todas as vezes que deseja interagir com algo.
Explorar bem os cenários é essencial para a resolução dos puzzles, não sendo incomum ter de ir e vir diversas vezes em uma sala para tentar encontrar algo que passou desapercebido das primeiras vezes.
Interagir com tudo que for possível te dará a possibilidade de notar certos detalhes que podem enriquecer o seu entendimento sobre a história, como por exemplo ler e-mails ou interagir com quadros nas paredes do escritório. Preste bastante atenção nos diálogos, leia todos os avisos nas paredes e e-mails para completar esse quebra cabeça sinistro.
The Long Reach se desenrola através de diálogos em texto, muito bem elaborados, com longas conversas que nos fazem desvendar cada vez mais sobre o que está acontecendo. Porém, o jogo não está disponível em português brasileiro, o que pode ser um problema para aqueles que não dominam muito o inglês.
Durante os diálogos você tem opções de resposta, porém o jogo te dá uma falsa sensação de escolha, como se o que você fizer realmente fosse mudar o andamento da história em momentos futuros. Mas tudo caminha por uma única linha narrativa, diferente de alguns jogos da Telltale Games, por exemplo. Os personagens não vão se lembrar das escolhas que você fez. De qualquer forma, essas outras escolhas de resposta te apresentam mais detalhes sobre o contexto em que tudo se ambienta, então vale a pena bater um papo com alguns NPCs.
O jogo conta com puzzles bem elaborados, porém eles são bem instintivos, um detalhe que contribui ainda mais com a imersão. Você se sente dentro de um filme de suspense tentando escapar daquilo, e normalmente o que você pensar em fazer possivelmente será a solução para abrir aquela porta trancada ou distrair aquele maníaco no corredor.
Um filme de suspense em pixel art
Os gráficos do jogo são pixelados e ricos em detalhes, tanto nos personagens quanto nos ambientes. Chamam a atenção ainda mais com as ótimas animações, bem fluidas e vivas. O som basicamente é o ambiente, o que te deixa mais imerso e tenso; você ouve vozes, passos, sons estranhos vindos da escuridão. E em alguns breves momentos, ouvimos alguns efeitos sonoros típicos de filmes de suspense, bem colocados e sem exageros.
A ambientação do jogo é bastante sombria e, sem o uso da lanterna, nem o personagem consegue se mover direito pela densa escuridão que cerca alguns cenários. Uma decisão inteligente de game design para aumentar ainda mais a sensação de tensão, associada aos sons estranhos que te cercam. Os cenários são muito detalhados, e contam com muitas referências espalhadas em torno deles, desde Star Wars até o cartaz “We Can Do It!”.
O objetivo principal em The Long Reach é contar uma história, e ele faz isso com louvor. A trama te mantém preso, querendo entender até onde vai tudo aquilo. O jogo é um conjunto artístico completo, com arte, som e roteiro se casando perfeitamente para criar uma atmosfera de horror psicológico bem elaborada e envolvente.
Para aqueles que nunca acreditaram que um jogo em pixel art pudesse ser tão imersivo, este é um bom exemplo. The Long Reach prova que não é necessário ter a experiência mais realista possível para se ter uma experiência imersiva. Basta saber orquestrar um conjunto narrativo bem elaborado para tal.