À primeira vista, Monster Sanctuary te faz subestimar a proposta da desenvolvedora Moi Rai. Misturar o gênero captura de monstros com a jogabilidade metroidvania? Não parece uma ideia que pode ser levada muito a sério, convenhamos, se fosse tão boa assim alguém teria tentado antes. Não é? Pior que não. Para todos os méritos, quem estava enganado era eu.
O gênero não só combina sim como digo mais, me surpreende que o casamento entre ambos tenha sido tão perfeito. Não sei porque ninguém tentou isso antes, mas a proposta de exploração, captura e de combates, junto à variedade de monstros, catapultam o título para um dos mais inovadores desse estilo que já vi durante o ano de 2020.
Temos que pegar?
Ao contrário de Pokémon, a ideia principal de Monster Sanctuary não é capturar monstros. Obviamente que isso está incluso no pacote, mas ele, essencialmente é um game de exploração e plataforma. São várias áreas diferentes que você poderá avançar e descobrir ainda mais mistérios, além disso se refletir nas espécies de criaturas vistas e no ambiente.
Conforme avança na sua jornada, mais territórios se abrem para você enquanto ganha novas habilidades ou sobe no ranking de domador. Outra ótima forma de descobrir locais novos é utilizando o seu companion. Você sempre pode ter um deles ao seu lado, cada um com uma técnica distinta. Desde te planar por poucos segundos, queimar vinhas e mover objetos pesados até mesmo montar em um deles para ter mais velocidade.
Vou confessar que estes recursos me fizeram invejar grandiosamente por não existir em nenhum dos demais jogos do gênero, como uma certa espada e escudo. É super simples de utilizar e de trocá-los, num momento você está montado num dinossauro enquanto ele corre pelo cenário, por outro você se joga num abismo e flutua segurando num fantasma de gelo que te leva para uma passagem secreta. Com dois botões apertados você já está soltando um raio num totem para resolver um puzzle e com essa versatilidade que você se encanta.
Esse recurso é extremamente versátil, útil e me fez conceber que nem mesmo o meu queridinho deste ano, Monster Viator, preenche essa expectativa. Fora que é muito bacana correr por aí com a sua criatura favorita a tiracolo descobrindo novas áreas e vivendo todas as aventuras ao seu lado. Isso desde o primeiro instante, onde é revelada toda a história, ou seja, não há um instante no qual isso seja impedido.
As batalhas, no geral, sempre são 3v3, onde você se movimentará por turnos para combater o time oponente. E não se engane, mesmo que um dos bichos seja exatamente igual ao seu, cada um tem uma árvore de ataques, buffs e debuffs diferentes e isso pode virar a maré ao seu favor ou contra você. Há também vários efeitos, dependendo do seu golpe, que podem envenenar, queimar, deixar com sangramentos, fraqueza etc.
Sem pokébolas nem itens específicos, captura-los é uma tarefa mais árdua, porém recompensadora. Todos os confrontos tem uma avaliação que vai de 1 a 5 estrelas, dependendo do seu desempenho. Quanto mais alto você estiver, mais chances de itens raros aparecerem. Um deles pode ser o ovo dos monstros que enfrentou. Ou seja, mesmo que você ganhe uma batalha em um turno, utilizando todos os parâmetros pedidos para a vitória alçar ainda mais pontos, há a chance destes ovos também não aparecerem e cabe achar outro para tentar a sorte uma vez mais.
Mas não é apenas com os monstros selvagens que você precisará se preocupar. Na torre principal do santuário e em algumas batalhas contra chefões, os confrontos ficarão mais acirrados e você vai penar para vencer. Isso porque ele envolve uma batalha 6v6 e, caso você seja como eu que gosta de escolher as criaturas pelo design, vai sofrer na estratégia inimiga. Todos eles, sem exceção, possuem combos combinados entre as criaturas que dá mais vantagem.
Porém, se você já montou uma equipe sólida e garantiu ainda na árvore de habilidades que todos teriam um estilo combinado também, não terá tanta dor de cabeça quanto eu tive. Além deles, também existem monstros super poderosos e perigosos que estão apenas te esperando para atrapalhar sua jornada. Se você ganha a batalha contra eles, seu ranking como domador aumenta e você poderá receber itens mais poderosos e acessar áreas diferentes da torre principal.
Vale notar que, chegando em certa posição, você também estará liberado para participar de um coliseu cheio de batalhas desafiadoras e até mesmo poderá jogar online contra os seus amigos. Mais completo que isso, só se mostrasse no mapa onde encontrar cada criatura como a Pokédex, porém em minha concepção é pedir demais para um jogo retrô 8-bit.
O Santuário
Caso esteja curioso sobre a história de Monster Sanctuary, ela não é lá daquelas merecedoras de um prêmio, mas faz o seu papel ao guiar o jogador durante a jornada. Você é o herdeiro de uma das quatro famílias acompanhadas por um monstro espectral e a sua missão é perseguir o topo dos domadores junto à criatura milenar.
Todos os bichos do santuário começam a agir de forma esquisita e agressiva, obrigando os treinadores a se unirem para descobrir o que está causando tanto caos. Enquanto desvenda esse mistério, a participação de outros personagens e do seu próprio parceiro inicial oferecem algumas sacadas e também aprofundam um pouco mais a experiência daquele mundo.
Para ser sincero, além do enredo não ser um dos pontos fortes, também senti falta de uma variedade maior de evoluções para os 100 monstros disponíveis no jogo. Deles, apenas 16 que possuem essa capacidade e te desmotiva a explorar todas as ramificações possíveis com os demais. Mesmo reclamando horrores da franquia Pokémon, qual ainda sou fã fiel, ao menos ali este é um recurso primordial. Nexomon Extinction, apesar de ser mais duro nessa questão, também fez sua lição de casa nesse sentido. Faltou tempero, como diria o chef Jacquin.
Apesar desse ponto, toda a minha experiência em Monster Sanctuary foi extremamente divertida. Enfrentei um desafio grande aqui e ali, travei em outro puzzle por lá, mas nada que me impedisse totalmente de continuar a jogar. Inclusive, até o grinding se torna algo tranquilo, já que mesmo que a experiência não seja muita, os itens ganhos podem te ajudar a realizar melhorias no ferreiro para fortificar ainda mais as criaturas.
O que achei interessante nisso tudo é que a Moi Rai respeitou o meu tempo de jogo. Ela não me empurra a história goela abaixo, nem me força a ficar travado em algum puzzle que não consegui passar naquele instante. Posso ir e voltar para onde quiser que o game continuará avançando tranquilamente, de uma forma ou de outra. Algumas side-quests também ajudam a te deixar mais pronto para os próximos desafios, então não sinto que estou perdendo o precioso tempo que a vida adulta já não tem com algo sem sentido.
Perdão por isso, caros leitores, mas eu poderia falar horas sobre esse jogo. A trilha-sonora, que não se limita e mostra uma diferença bem interessante em cada área e nos combates. A impecável arte, qual gritou pelo meu desejo de desenhar algumas das criaturas vistas no compendium dele. A performance dele, qual não vi um travamento ou glitches em meu caminho. Nós percebemos quando algo é feito com carinho e Monster Sanctuary, meus amigos, entra nesse caso.
Recomendado para quem gosta de um clássico metroidvania, como os bons tempos de SNES e do primeiro PlayStation, assim como quem cresceu com um Game Boy nas mãos jogando Pokémon. Mesmo que não se atraia por nenhum dos gêneros, confia que ele vai te cativar de alguma forma e se mostrar uma das melhores opções indies de 2020.