Na E3 de 2019, a Ubisoft revelava o primeiro trailer de um de seus novos projetos: um joguinho colorido e cartunizado intitulado Gods & Monsters. De lá para cá, o jogo seguiu sendo pouco comentado e até mudou de nome! Agora sob o título de Immortals Fenyx Rising (e me desculpem a sinceridade, mas que nome horrível se comparado com o anterior), o jogo já é considerado o The Legend of Zelda: Breath of the Wild da Ubisoft – o que é ótimo, pois estamos falando de um dos jogos mais incríveis e memoráveis da atual geração de consoles.
Não é surpresa para ninguém que a Ubisoft se inspirou completamente em Breath of the Wild para criar este game, então as semelhanças não são meras coincidências! BOTW fez escola e Immortals não é o primeiro jogo a seguir seus passos, pois já vimos outros títulos como Windbound e até o sucesso Genshin Impact fazerem o mesmo. A diferença é que Immortals Fenyx Rising é um AAA com tudo maiúsculo e segue uma temática bem familiar em qualquer mídia: a mitologia grega.
Se você já espremeu até a última gota de orvalho de BOTW e já não vê a hora de pôr as mãos em sua sequência, este é o tipo de jogo ideal para matar a saudade. A fórmula já está pronta, então basta copiar tudo que Zelda oferece e mudar apenas a história e o universo – e foi exatamente o que a Ubisoft fez!
Uma lenda entre homens
A história de Immortals Fenyx Rising é tudo que já estamos cansados de ouvir, afinal, é mitologia grega! Você já viu isso em livros, filmes e outros jogos bem famosos como God of War, então aqui temos apenas uma releitura dos contos sob a ótica da Ubisoft.
Tudo começa quando o gigante Tifão escapa de seu aprisionamento eterno e começa sua vingança contra os deuses do Olimpo. Após espalhar calamidade por toda a Grécia, ele consegue matar alguns deuses e os que conseguiram escapar acabaram enfraquecidos – incluindo Zeus, que está morrendo de medo da fúria de Tifão. Sem a ajuda dos outros deuses e com todos os mortais transformados em pedra, o único capaz de salvar as divindades do Olimpo é um mortal chamado Fenyx, um mero escudeiro que teve a sorte (ou azar) de não virar estátua.
Toda a história é narrada por Prometeus e comentada por Zeus, dando um equilíbrio cômico perfeito à narrativa. Eu arrisco dizer que essa dupla são os únicos personagens verdadeiramente carismáticos do jogo, mesmo marcando presença apenas com suas vozes. Prometeus, com toda a sua sabedoria e onisciência, conta a história como uma verdadeira epopeia, enquanto Zeus o interrompe constantemente com comentários inconvenientes e mesquinhos. Além de ser engraçado, é uma excelente forma de aprender mais sobre mitologia grega, para aqueles que não estão muito familiarizados com o tema.
Infelizmente, não veremos todo esse carisma nos demais personagens da trama. Fenyx é um personagem customizável, que criamos a nosso gosto, então ele já nasceu fadado a ser um boneco sem vida e carisma. Eles até tentaram deixar o personagem mais ativo na história, então ele vai contra outros jogos do tipo e possui voz, participa de diálogos etc. Ainda assim, não foi o bastante para deixar Fenyx ou qualquer outro deus presente no jogo com mais personalidade ou expressividade.
Acho que grande parte dessa falta de carisma se deve ao rosto dos personagens, que ficaram bem inexpressivos devido ao estilo de arte utilizado. A dublagem está excelente (já levando em consideração a dublagem em português) e é o que ajuda a deixá-los mais interessantes, mas no geral eles nunca aparentam estar sentindo nada, apenas abrindo e fechando a boca para falar. É bem estranho, mas não prejudica tanto o objetivo principal do jogo: fazer você se sentir um verdadeiro herói grego que começa como um ninguém e termina com poderes dignos de um deus.
Já vi isso antes
Quanto ao gameplay, acho que essa é a parte com menos novidades em Immortals Fenyx Rising, pois novamente reforço: ele funciona exatamente da mesma maneira que Zelda: Breath of the Wild. Teremos um vasto mapa para explorar que é dividido por regiões, cada uma sendo um território de um deus específico (no caso de Zelda, eram os guardiões e suas Divine Beasts). Cada território possui seus próprios biomas, inimigos e desafios, então é realmente muito instigante explorar tudo, além do fato do jogo estar muito bonito e cada região ser um deleite para os olhos, fazendo bom uso do cel shading (estilo gráfico que também é utilizado em BOTW).
Se você não jogou BOTW mas jogou qualquer outro jogo da Ubisoft, sabe muito bem como eles funcionam. Junto das missões principais, o mapa está repleto de sidequests, itens para coletar, desafios opcionais e aqui as Câmaras de Tártaro, que são o equivalente aos shrines de Zelda. Cada câmara oferece uma sequência de puzzles que, quando concluídos, nos recompensam com itens necessários para a progressão do personagem.
Falando nisso, assim como Link, Fenyx não possui level. O jogo possui alguns elementos de RPG, mas não pertence ao gênero. O único jeito de ficarmos mais fortes é coletando itens necessários para aumentar a barra de HP e de stamina, desbloqueando habilidades e principalmente através dos equipamentos. Porém, aqui é um pouquinho diferente de BOTW, pois lá cada arma e equipamento possuía atributos diferentes, mas aqui cada uma oferece um perk que permanece ativo enquanto equipado e o único jeito de aumentar seus atributos é através dos upgrades.
A progressão é lenta, mas pelo personagem não ter level, teoricamente você pode encarar qualquer coisa e progredir da forma que achar melhor. Eu levei em torno de 10 a 15 horas para concluir cada território (o que envolve fazer todas as missões relacionadas ao deus daquele local), já incluindo as paradinhas entre uma missão e outra para fazer Câmaras de Tártaro e objetivos paralelos. No geral, são cerca de 40 horas para terminar a campanha e muito mais para limpar o mapa.
A dificuldade é bem balanceada, mas tende a ficar muito mais fácil conforme vamos comprando novas habilidades e movimentos de combate. Ao destituir o controle de Tifão em determinados territórios, ele começa a enviar tropas especiais e inimigos mais poderosos atrás de você (o equivalente à Lua de Sangue em BOTW), dificultando um pouco sua vida e deixando as coisas mais divertidas para quem nunca dispensa uma boa luta. A parte chata é que lutar é bem pouco recompensador, já que não ganhamos XP, então no meu caso passei a maior parte do tempo apenas fugindo dos combates e focando em outras coisas.
Digno dos deuses
Agora a pergunta que não quer calar: ele é tão divertido e viciante quanto BOTW? Sou suspeito para falar, afinal sou muito fã de Zelda, mas posso afirmar que Immortals Fenyx Rising realmente consegue nos instigar a passar mais um tempinho dentro daquele mundinho e sempre nos incentiva a explorar o mapa em busca de tesouros. Sendo assim, o que não falta são combates com criaturas épicas e puzzles muito criativos para resolver, dois fatores bem presentes em BOTW e replicados aqui com sucesso.
O jogo foi 100% forjado na safezone, então a Ubisoft não ousou inventar demais para não se distanciar muito de sua inspiração, mas também não retirou nada – é o clássico “copia, mas não faz igual”. A desvantagem é que BOTW possui um universo único e muito rico, então nós não ficamos imersos no jogo exclusivamente por causa do gameplay, mas também porque gostamos muito daqueles personagens e queremos saber cada vez mais sobre eles. Aqui isso não acontece, pois além de todos nós já conhecermos boa parte da mitologia grega de cor e salteado, os personagens também não conseguem cativar.
No geral, é um ótimo jogo, divertido e instigante como deveria ser. Ele não é só recomendado para ocupar aquele vazio que Zelda deixou em nossos corações, mas também para apresentar o “gênero” para mais pessoas, afinal nem todo mundo tem um Nintendo Switch para curtir BOTW. Sendo assim, é ótimo poder contar com Immortals Fenyx Rising nas demais plataformas, expandindo essa fórmula de sucesso mundo afora e ainda oferecendo uma experiência muito divertida para os amantes de mitologia grega.