Valkyria Revolution é a prova de que quem vive de hype pode se frustrar rapidamente, ao mesmo tempo em que surpreende quem busca por novidades e se impressionou com o histórico da franquia. O que importa é reconhecer que esse é mais um daqueles jogos que precisam ser degustados de maneira completa para ganharem seu merecido valor.
Chegando pela primeira vez na nova geração após o grande sucesso de Valkyria Chronicles (não confundir com a franquia Valkyrie Profile), a SEGA prometeu um jogo totalmente novo, com novas mecânicas, novo mundo e personagens. E foi exatamente o que ela entregou. Com coragem, ela deixou de lado o estereótipo das continuações, que só tinham mais do mesmo, para arriscar em novidades ao reformular o estilo do primeiro jogo.
Da mesma maneira como a Bandai fez com Tales of Berseria, que evoluiu para conquistar o público Ocidental com um estilo diferente e inovador dentro de uma série já consolidada, Valkyria Azure Revolution, como foi lançado no Japão, chega na Europa e Américas quase meio ano após o lançamento japonês com um misto de alegria e frustração.
Sai o RPG e entra o Musou
A principal mudança foi a escolha de trocar o RPG de turnos pelo estilo Musou, aquele que vem invadindo franquias como, por exemplo, Zelda (Hyrule Warriors), Dragon Quest (Heroes) e One Piece (Pirate Warriors), além de outros vários lançamentos da Koei Tecmo. Valkyria Chronicles ganhou destaque por mesclar detalhes referenciados na História Mundial durante a Segunda Guerra Mundial, combate por turnos e elementos de RPG com personagens e histórias muito bem construídos.
Diferente do que vimos no PS3, Valkyria Revolution aposta em um gameplay mais rápido e dinâmico, possuindo um controle simplificado para você partir para a porrada com espadas e escudos gigantes, além de armas um tanto quanto estranhas que surgem como elementos a partir da história que o jogo possui. O campo de guerra é trocado por arenas genéricas e repetitivas em que você explora para conquistar bases, derrotar o maior número de inimigos e enfrentar um chefe final. Para isso você terá um botão para atacar, um para defender e outro para se esquivar ou correr, além do triângulo que abre sua HUD com as opções estratégicas para seleção de golpes, magias, armas e itens.
Não é mais RPG e tem menu para gameplay tático? Sim! Não da mesma forma como Dragon Age conseguiu mesclar elementos de RPG e Ação. Você é capaz de pausar o jogo a partir do uso do menu para abrir as opções e otimizar o seu combate. Quase como uma vaga lembrança do que foi Valkyria Chronicles, dessa vez temos a opção de incrementar os ataques, porém de maneira desnecessária até enfrentarmos os chefões. As lutas em campo são simples demais para exigir qualquer estratégia, bastando apenas você correr para cima do inimigo e atacá-lo normalmente com golpes fracos, já que as armas e o sistema para ataque à distância não funcionam muito bem.
São quatro personagens disponíveis para cada arena/fase e você pode alternar entre eles com o direcional analógico, porém muitas vezes você deixará de lado a profundidade e possibilidades no combate, sem executar defesas ou magias de suporte, partindo para o ataque desenfreado com o personagem principal ou algum outro que você tiver mais afinidade. É grande a variedade de personagens, vários com as mesmas características, e muitas armas que executam golpes nem tão diferentes assim, afinal todos golpes elementais são baseados na mesma animação, dependendo da arma que você estiver usando. Na hora do aperto você sempre vai optar pelo mais fácil: ataque constante, alternando quando precisar apenas para curar os membros da sua party.
O mais estranho durante as arenas é perceber que o seu progresso durante um combate não condiz com a sua força. Basta um chefe, que nem precisa estar equipado com algum veículo, usando apenas sua arma, para fazer você perceber que a barra de energia dele vai demorar muito para se esgotar. Se em inimigos normais você consegue resultado com apenas um golpe, pode ter certeza que qualquer inimigo mais forte fará você lutar bastante, sem motivo algum a não ser uma partida repetitiva e desnecessariamente longa. Ao final o que fica é a sensação de que basta você correr e ignorar qualquer elemento extra, apenas esmagando os botões para atacar seu inimigo. Tudo bem se você não usar alguém com magia de cura na sua party, basta usar R1 e se esconder (atrás de uma trincheira ou parede) para seu HP regenerar.
Val… (loading) kyria
Assim como nos outros jogos, a produtora Media.Vision, famosa por Wild Arms, conseguiu desenvolver uma boa história. Não excelente, como em Chronicles, mas boa o suficiente para explicar um novo jogo e uma nova jornada.
Valkyria Revolution é ambientado 100 anos antes do primeiro jogo, em um pequeno país conhecido como Jutland após sofrer com bloqueios e embargos comerciais impostos pelo Império Ruzhien. Um império opressor em busca de Ragnite, mineral mágico que pode ser usado como energia e ao mesmo tempo possibilita aos alquimistas usarem magias, os Ruzi começam a enfrentar o levante da nação oprimida na tentativa de minar a dominação imperial.
Liderado pela Princesa Ophelia que decide deixar o trono e integrar Vanargand, a tropa de elite do Reino de Jutland, ao lado do Capitão Amleth Grønkjær, passará a enfrentar não somente as forças de Ruzi mas também o mistério por trás do uso do Ragni, os poderes sobre-humanos e Brunhilde, a misteriosa mulher que acompanha o Império. O legal é que na história, mesmo que ela seja uma simples máscara para os conflitos europeus da Segunda Guerra Mundial, a Media.Vision conseguiu resgatar a mitologia que conhecemos nos três jogos da série Chronicles. Para quem jogou os anteriores, Alicia, Selvaria, Aliasse e Riela serão muito bem homenageadas e representadas nesse jogo. Ok! Sem mais spoilers.
Prepare-se para acompanhar uma história formada por quatro partes: a jornada dos integrantes de Vanargand, a vingança do Círculo dos Cinco, a presença da mitologia dos Valkyrur e o poder opressor de Claudius Powlovich Kiev e seus Grande Generais do Império Ruzhien.
Com tanto conteúdo a ser desenvolvido, o problema do jogo não é a história mas sim como ela é montada e intercalada com os momentos de interação e jogabilidade. São MUITAS telas de loading a cada sequência animada ou corte entre as áreas exploráveis, sem contar a quebra de ritmo quando somos obrigados a revisitar a mesma tela da professora Richelle contando para seu aluno o passado de Jutland, sentados em uma belíssima paisagem em frente ao túmulo dos cinco traidores que causaram a Guerra da Libertação e o conflito contra as forças imperiais.
Para quem não está acostumado com jogos japoneses e com pouco gameplay, por conta das incontáveis animações, o trabalho da SEGA pode parecer incompleto, o que não é verdade! O jogo não pode ser considerado ruim por conta de tela de loading e interrupções na história, pois toda a construção de personagem e mundo, com o desenrolar da narrativa, são o ponto forte de Valkyria Revolution. Se olharmos ao contrário, não como um downgrade de um jogo de RPG e sim um upgrade na fórmula repetitiva dos jogos no estilo Musou, esse é um ótimo título dentro desse gênero. Como disse no começo, ele precisa ser apreciado de maneira completa e não somente em partes, ainda mais sendo comparado ao seu antecessor.
Um livro ilustrado de história
O trabalho da Media.Vision e da SEGA tem seus pontos fracos, principalmente quando você consegue finalizar o jogo abandonando toda e qualquer mecânica, usando apenas o combate corpo a corpo. Porém o que muitos podem acabar deixando de aproveitar e curtir durante a narrativa ao se apegar tanto ao gameplay, é o seu potencial de imersão.
Yasunori Mitsuda, compositor responsável por Final Fantasy V, Xenogears e Chrono Trigger, assina a trilha sonora e consegue pontuar muito bem o ritmo da aventura. Áreas com maior desafio enchem os ouvidos com músicas mais pesadas, ao mesmo tempo em que fases mais rápidas são angustiantes. O artista ajuda a tirar a sensação de localidade genérica e acompanha o alto nível de direção de arte.
Visualmente, Valkyria Revolution é impecável! Talvez nem tanto quando notarmos as animações e movimentações, principalmente no lábios dos personagens durante as falas, mas a engine CANVAS, em que a SEGA trabalhou, realmente nos leva para dentro de pinturas granuladas e com pinceladas fortes. Longe de ser um cell-shading, o estilo artístico é realmente impressionante e evolui o que vimos na série Chronicles e os animês da franquia, chegando a um novo patamar e que reforça ser um jogo totalmente diferente com uma mudança bela e agradável.
O design dos personagens é sensacional! A diferença entre cada um dos cinco que compõem o bando de traidores do reino (e que não vou comentar os nomes para você começar o jogo sem saber quem são) no jeito de se vestir, falar e comportar, quando comparados aos integrantes do Vanargand, como combatentes de elite, mostram todo o potencial do jogo. São os detalhes que fazem a diferença, seja no visual, na forma que se movimentam pelos cenários ou até mesmo no estilo de atuar (graças aos dubladores), que farão com que você escolha o seu próprio time preferido e dificilmente mude, já que o jogo não necessita de grind e aumenta proporcionalmente o level de todos os personagens ao mesmo tempo após cada cenário.
A frieza de Amleth, a força de vontade de Ophellia, a sobriedade de Solomon e Godot, a sensualidade de Violette, o comprometimento de Daryl, a malandragem de Blum e a espontaneidade de Sara são as mais impactantes na minha opinião. Isso sem contar os vilões, pois não somente o Imperador Claudius e a maldade em pessoa de Brunhilde, mas Maxim e os quatro Generais fazem com que você realmente fique com ódio deles durante o desenrolar da narrativa. Chega a ser engraçado ver como Valkyria Revolution se comporta praticamente igual à um animê com seus estereótipos, e deixa que o jogador tenha o controle de cada uma dessas forças individuais que compõem o jogo tão brilhantemente. Hoje em dia é muito difícil achar um lançamento que trabalhe tão bem seus personagens, principalmente um número grande como a SEGA se comprometeu a fazer, mas infelizmente peca com que, em muitas sequências animadas, vários deles tenham que falar, mesmo que seja algo gratutio, como um “Nyan”, só para aparecerem e participarem.
Dentro do jogo também rola um fan service para quem gosta de Record of Lodoss War, tendo Maaya Sakamoto, a cantora da famosa abertura do animê, como dubladora de Brunhilde. Um dos motivos de você deixar a dublagem do jogo em japonês e curtir ainda mais a bela interpretação dos atores durante o desenrolar da narrativa com seus momentos emocionantes.
Quem ganha a Guerra?
Deixe o pensamento de continuação e pare de insistir em achar que a franquia Valkyria precisa manter a fórmula dos primeiros jogos. Valkyria Revolution é único por unir elementos do RPG na tentativa de evoluir o estilo Musou e só por essa tentativa já merece valor. Vencidos os três primeiros capítulos do jogo e o preconceito, esse é mais um lançamento que merece a sua atenção.
Olhando outras opiniões, o que percebi foi a falta de envolvimento com a história e personagens, sem contar que muitos não devem ter jogado até o fim para serem surpreendidos pelo bom trabalho de roteiro, já que começamos em teoria pelo final da história e olhando para o passado. Infelizmente é um jogo que sofreu por falta de verba durante o desenvolvimento e tentou atingir um público maior, não somente através do nome, mas que acabou sacrificando excelentes elementos dos antecessores. Não que estrague a sua experiência, apenas exigirá de você uma vontade maior de prosseguir com ele.